Volta ao escritório
Humanos e tecnologia

Volta ao escritório

Enquanto em algumas empresas nem se fala em volta ao escritório, outras já retomaram as atividades presenciais, mas de uma forma bem diferente. Nessa retomada, companhias do mundo todo e seus funcionários estão tendo que lidar com protocolos de segurança, flexibilização da rotina e adaptação dos espaços de trabalho, para manter o dia a dia do escritório físico nesse “novo normal” sem colocar a saúde das pessoas em risco.

Para o diretor de marketing da América Latina & Caribe do SAS – Software de Business Analytics e Business Intelligence, Kleber Wedemann, o distanciamento social promovido por governos ao redor do mundo fez com que o retorno integral dos funcionários de boa parte das empresas não aconteça mais. Segundo ele, o modelo se comprovou produtivo e, em alguns casos, o rendimento dos trabalhadores aumentou. “O modelo híbrido deve ser a nova realidade, mas para funções muito específicas”, diz o executivo.

Quantos funcionários vão voltar?

Muitas empresas já determinaram que continuarão com o home office, independentemente da descoberta de uma vacina contra o coronavírus ainda este ano. Algumas inclusive falam em não voltar ao escritório nunca mais.

Elas são motivadas pelos dados de casos e mortes ainda críticos, embora as autoridades já estejam flexibilizando as regras de isolamento social. A segurança e a saúde dos funcionários é o maior motivo para manter o home office, seguidas do aumento da produtividade e da qualidade de vida do colaborador.

Mas segundo um levantamento da unidade brasileira da consultoria global KPMG, a maioria das empresas brasileiras deve promover o retorno de seus funcionários aos escritórios até dezembro de 2020. Apenas 9,42% delas planejam o retorno somente em 2021, sendo que em 11,22% o acesso ao escritório nunca chegou a ser bloqueado.

Na pesquisa “Covid-19: como será o seu retorno aos escritórios”, foram entrevistados 722 empresários de todo o Brasil, de diversos segmentos da economia. O levantamento revelou que só 16,20% das empresas pretende voltar com 100% dos profissionais. A grande maioria planeja fazer algum tipo de rodízio: 16,07% voltarão com no máximo 15% dos funcionários; 30,33%, com no máximo 30%; 27,01% das empresas planejam retomar o dia a dia no escritório com no máximo 50% dos funcionários; e apenas 10,39% das companhias voltarão com 50% a 100% dos seus colaboradores.

A tendência é que a retomada aconteça de forma gradativa, acompanhando de perto os efeitos da volta ao escritório. Medidas de segurança como o uso obrigatório de máscaras, medição de temperatura, questionários sobre as condições de saúde do funcionário e aplicação de testes para Covid-19 foram mencionadas por 91,55% dos empresários entrevistados na pesquisa.

Os escritórios no “novo normal” serão bem diferentes dos espaços populosos de antes da pandemia. Entre os extremos das empresas que não pretendem voltar tão cedo e das que já estão operando normalmente estão as companhias que vão adotar um sistema híbrido, com escritórios físicos disponíveis mas com funcionários livres para escolher o home office em alguns dias da semana.

“O escritório do futuro não será igual ao que conhecemos. Ele será bem mais tecnológico, com mais ferramentas, que vão de dispositivos a aplicativos e recursos audiovisuais. Ele estará em qualquer lugar, qualquer tempo, em qualquer dispositivo”, esclarece o diretor de marketing da Embratel, Marcello Miguel.

Quando?

Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral, em parceria com a Grant Thornton, contabilizou 636 respostas válidas entre março e abril de 2020 sobre o home office por causa da Covid-19. A conclusão: 54% dos profissionais pretendem propor ao chefe continuar no trabalho remoto quando acabar a pandemia do novo coronavírus.

Já um estudo realizado pela consultoria Cushman & Wakefield com 122 executivos de multinacionais que atuam no Brasil revelou que 73,8% das empresas pretendem instituir o home office como prática definitiva no Brasil após a pandemia.

Segundo pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre), 42% das empresas brasileiras avaliam que suas atividades só voltarão à situação anterior à pandemia a partir de 2021. De acordo com o levantamento, outras 10% ainda não conseguem visualizar um retorno à normalidade, 25% operam normalmente, e 22% esperam uma normalização até o fim de 2020.

Nomes relevantes no mundo corporativo anunciaram suas decisões. No Twitter os funcionários poderão escolher se preferem trabalhar de casa quando acabar a quarentena. O fundador do Facebook, Mark Zuckerberg, disse que vai “implantar agressivamente a contratação remota” e que espera que metade de seus funcionários trabalhe remotamente dentro dos próximos 5 a 10 anos.

No Nubank o home office será integral até o fim de 2020 para todos os funcionários de escritórios em São Paulo, Berlim, Cidade do México e Buenos Aires. E a gigante de tecnologia Google afirmou que vai deixar a maioria de seus colaboradores trabalhando de casa até 2021.

Mas, em contrapartida, há uma parcela considerável de trabalhadores que aguardam ansiosos a chegada de uma vacina ou qualquer outra solução que os permita voltar ao escritório com segurança. Para muitos, as condições de home office não são as melhores.

O Brasil foi classificado como o quinto país do mundo com maior dificuldade para se implementar o sistema de trabalho em casa. A conclusão foi de um estudo realizado por Sarah H. Bana, Seth G. Benzell e Rodrigo Razo Solares, pesquisadores do Massachusetts Institute of Technology (MIT), que analisou como a variedade de ocupações, a infraestrutura em tecnologia e características demográficas de 30 países afetam a capacidade das pessoas trabalharem em casa.

Fatores como acesso à internet e crianças e adolescente em casa foram determinantes para a má posição do Brasil na lista, além da falta de dados disponíveis a respeito do percentual de profissionais empregados que têm experiência no trabalho remoto.

As economias desenvolvidas provavelmente terão melhor desempenho, conforme mostram os resultados do estudo do MIT, principalmente os países onde há uma mistura de indústrias e ocupações mais propícias ao home office. Condições favoráveis, como acesso à Internet de alta velocidade, também foram apontadas como cruciais para a melhor adaptação do trabalho em casa.

Além disso, o levantamento destaca que mesmo com a reabertura das economias e a volta ao escritório, não está descartada a volta ao home office no caso da adoção de novas medidas de isolamento e novos períodos de quarentena para frear o avanço de novos focos da pandemia.

Seja definitivamente ou em alguns períodos específicos, a questão é que o home office será uma realidade para o mundo todo muito mais do que antes da pandemia.

Que setores vão ter mais home office?

Em junho, quando a pandemia do coronavírus já estava em estágio avançado, 8,6 milhões das 84,4 milhões de pessoas ocupadas no Brasil estavam trabalhando remotamente, segundo um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Cerca de 24,6% eram de militares ou servidores estatutários, 21,4% do setor público com carteira assinada e 11,4% do setor privado com carteira assinada. A pesquisa também revelou que a grande maioria dos trabalhadores em home office tinha ensino superior completo ou pós graduação.

Já o estudo do MIT mostrou que a crise causada pela Covid-19 afeta mais os serviços, principal setor da economia. As empresas dos setores da indústria e do comércio, em sua maioria, já voltaram ao nível pré-crise.

A situação do setor de serviços é a seguinte:

  • 15% das empresas não veem perspectiva de retomar a normalidade;
  • É o setor que tem mais empresas que só veem melhora a partir de 2021 (47%);
  • Apenas 17% já voltaram ao nível pré-crise;
  • No caso de serviços como restaurantes, lazer e turismo, os mais atingidos, 66% só veem melhora a partir de 2021 e 17% não veem perspectiva de retomar a normalidade.

Foi justamente o setor de serviços o que mais sofreu com demissões, conforme sondagem especial do Ibre – FGV. O percentual de empresas que reduziram o quadro de funcionários foi de 34%, chegando a 43% no caso dos serviços, setor que mais emprega no Brasil. Nos serviços prestados às famílias, 57% das empresas reduziram seu quadro.

É no segmento de serviços que a expectativa pela permanência do home office é maior (89%), seguido pelas indústrias (79%) e pelo comércio (73%). Os dados são de uma pesquisa com 375 empresas do Brasil realizada pela Talenses Group, holding especializada no recrutamento de profissionais, em parceria com a Fundação Dom Cabral.

No início do isolamento social, em março de 2020, a porcentagem de funcionários em home office passou de 15,2% para 51,1%. Já nos serviços

esse percentual cresceu de 25,6% para 76,3%. O comércio foi o segmento com a menor taxa de aumento, de 11,7% para 22,9%, sendo o setor com o maior percentual de empresas já operando na normalidade (33%).

No comércio, os supermercados e lojas de materiais de construção têm os maiores percentuais de empresas que já retomaram a normalidade (41%), seguidos pelo comércio de móveis e eletrodomésticos (35%).

Que cargos vão usar mais home office?

Uma em cada cinco profissões no Brasil pode adotar o home office, diz um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea) divulgado em junho de 2020, que apontou que o trabalho remoto poderá ser adotado em 22,7% das ocupações, somando mais de 20 milhões de trabalhadores no país.

O resultado desse estudo coloca o Brasil na 45a posição no ranking mundial e em 2o lugar na América Latina. A pesquisa “Potencial de Teletrabalho na Pandemia: Um Retrato no Brasil e no Mundo” seguiu a metodologia da Universidade de Chicago na estimativa do teletrabalho em 86 países, adaptada à realidade brasileira com a conversão das funções para a Classificação de Ocupações para Pesquisas Domiciliares, adotada pela PNAD Contínua, do IBGE.

Das 434 ocupações analisadas, mais de um quinto podem ser realizadas remotamente. Segundo o estudo, os profissionais com maior potencial para o trabalho remoto são os de ciências e intelectuais, diretores, gerentes e técnicos e profissionais de ensino médio. Já entre os que possuem o menorpotencial estão os trabalhadores rurais, da caça e da pesca, além de militares. Na pesquisa, se a ocupação envolve trabalho fora de um local fixo e operação de máquinas e veículos, é considerada não passível de teletrabalho.

Mas essa realidade não é uniforme em todo o país, já que o levantamento revelou disparidades regionais. Os maiores potenciais para teletrabalho,nessa ordem, foram identificados em:

  • Distrito Federal – 31,6% das ocupações (cerca de 450 mil pessoas) podem ser realizadas remotamente;
  • São Paulo (27,7% ou 6,1 milhões de pessoas);
  • Rio de Janeiro (26,7% ou 2 milhões de pessoas).

No outro extremo, o menor potencial foi observado no Piauí, com apenas 15,6% das atividades (ou 192 mil trabalhadores) podendo ser realizadas de maneira remota.

No cenário internacional, Luxemburgo está no topo do ranking de 86 países, com 53,4% dos empregos com potencial para teletrabalho. No fim da lista está Moçambique, com apenas 5,24% das ocupações.

Considerando o corte da América Latina, o Chile é o país que apresenta maior potencial, com percentual de 25,74%. Na região, nove países foram considerados no estudo: Brasil, Bolívia, Chile, El Salvador, Equador, Guatemala, Honduras, México e Panamá.

Para avaliar o cenário de home office com a pandemia, a Robert Half, empresa de recrutamento que seleciona profissionais especializados para cargos de média e alta gerência, realizou uma pesquisa em maio de 2020 com respostas de mais de 800 trabalhadores com 18 anos ou mais, empregados em escritórios brasileiros. Os resultados mostraram que 86% dos profissionais entrevistados gostariam de trabalhar remotamente com mais frequência quando as restrições de isolamento forem flexibilizadas.

Esse artigo faz parte da nossa Special Edition Home Office: Work Anywhere

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