Uma blockchain para LGPD
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Uma blockchain para LGPD

Você acha que está revelando muita informação a seu respeito quando mostra sua carteira de motorista para um barman ao comprar um drink? Você acha um absurdo a quantidade de informação exposta quando faz um PIX? Se sim, então este artigo é para você.

Uma nova forma de exibir apenas a informação que a pessoa precisa ver está sendo estudada. Com o advento da Lei Geral de Proteção de Dados, é importante encontrar soluções que possam proteger e assegurar os dados pessoais.

Embora o blockchain seja um meio confiável de troca de informações sem um terceiro, ele tem um efeito colateral de ser um pouco transparente demais às vezes. Desta forma, a Prova de Conhecimento Zero (Zero Knowledge Proof, ZKP, em inglês) tem sido uma solução emergente para garantir a confidencialidade das partes.

O que é a Prova de Conhecimento Zero?

Criptografia é uma das técnicas essenciais da tecnologia de blockchain, na verdade o fator mais importante para a larga adoção do blockchain na indústria. Agora a matemática pode ter ido adiante e a ZKP pode ser mais uma inovação disruptiva.

O objetivo da ZKP é permitir ao provador convencer o verificador de que ele tem os dados corretos sem precisar mostrá-lo, sem expor suas informações. Por exemplo, no futuro, você vai poder acessar o saldo da sua conta, sem precisar mostrar sua identidade.

Na verdade, você só precisa mostrar que tem a posse das informações e não exatamente quais são elas. Na prática funciona assim, o verificador pode passar desafios ao provador que só poderiam ser completados com as informações corretas.

Veja este exemplo:

Priscila precisa provar a Vitor que tem a chave do portão sem mostrar a chave para ele. Ela então entra no túnel primeiro por qualquer um dos lados. Vitor aparece na entrada e pede para que ela saia pelo lado A. Independente de qual lado Priscila entrou, se ela tiver a chave, vai sempre conseguir sair pelo lado certo.

Quais são as aplicações da ZKP?

Enviar mensagens, por exemplo, é uma aplicação muito usada por todo mundo. Vamos pegar o caso do WhatsApp. Aparece escrito que as mensagens são todas criptografadas de ponta-a-ponta certo? Isso significa que ninguém consegue ter acesso a elas a não ser você e sua contrapartida. O que nos passa batido é que para enviar mensagens neste aplicativo nós temos que nos identificar para o servidor antes: nome, número de telefone, etc. Em uma blockchain de mensagens, o endereço de sua conta seria exposto, e, por mais que ninguém saiba o que você está falando, sabem que alguém X está falando muitas vezes com Y e com Z também.

Podemos pensar também no caso do sistema eleitoral no qual o voto é secreto. Como contar o número de votos e garantir sua unicidade sem ver a identidade do cidadão? Se não há identificação, então é fácil de falsificar, se a identidade é mostrada, não é secreto.

Vamos pegar outro famoso exemplo: onde está o Wally?

Onde está o Wally? Seu amigo grita “achei!” E como ele pode provar que achou sem revelar onde está o Wally? A prova pode ser feita pegando uma cartolina maior do que o livro, fazendo um furinho nela e mostrando apenas o rosto do Wally. É uma forma bastante criativa de mostrar que você achou sem mostrar a posição.

Evolução dos modelos

A primeira tentativa de uma moeda com privacidade foi a Monero. Fundada em 2014, ela cumpriu o que pretendia, mas ainda tem problemas de escalabilidade com o tamanho das transações geradas. Em 2016 surgiu a ZCash, que conseguiu mais escalabilidade com uma prova mais simples, mas ainda era necessário que os dois membros da operação acreditassem que a chave de configuração da transação fosse destruída. É claro que sempre temos dois lados, quanto mais oculto mais propenso a ser utilizado por criminosos.

O bom lado estaria nos novos modelos que estão chegando ao ponto de que, se a blockchain não precisar mostrar o saldo da conta, nem da transação, apenas provar que ele foi realizado com sucesso, uma blockchain com tamanho fixo de 20 kbytes pode guardar toda a informação contábil e rodar no seu celular. Mais descentralizada do que isso será impossível. Será o futuro?


Este artigo foi produzido por Christian Aranha, Empreendedor e pesquisador na área de Inteligência Artificial, Big Data e Blockchain, autor do livro Bitcoin, Blockchain e Muito Dinheiro e colunista da MIT Technology Review Brasil.

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