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Com o avanço das tecnologias digitais, novas possibilidades e desafios surgem para diferentes setores do mercado. No segmento financeiro, principalmente nas instituições bancárias, a transformação acelerada impulsiona uma agenda inovadora, com mudanças na forma de oferecer produtos e serviços. Para abordar os impactos dessas transformações, a MIT Technology Review Brasil conversou com o executivo Mauricio Minas, membro do conselho de administração do banco Bradesco, onde supervisiona as áreas de Tecnologia da Informação e Estratégia Digital.
Entre os fatores que impulsionam a inovação do setor, Minas ressalta os da nova realidade global, como a guerra da Rússia contra a Ucrânia, a pandemia e a inflação, que demandaram a redução de custos e a aceleração digital dos modelos de negócios. Para o executivo, entretanto, há um conceito estrutural que norteia o novo cenário: a experiência do cliente. “O que os clientes desejam é muito mais do que anos atrás. As pessoas
tiveram contato com plataformas digitais que trouxeram um novo paradigma de experiência em diversos setores além do financeiro, como o do varejo e das telecomunicações. Então o mercado está pedindo essa transformação”, ressalta.
Ainda segundo ele, os pontos positivos predominam na inovação do mercado de finanças. Além da mobilidade do atendimento, Minas destaca a formação de uma base de dados que possibilita compreender o comportamento dos clientes e personalizar as soluções: “É possível entendê-los um a um, o que gera o encantamento. Os bancos passaram a enxergar o cliente como um indivíduo e não como uma classe de renda. Com informações mais precisas, a oferta se torna personalizada e a taxa de conversão é maior”, explica.
Outro recurso vantajoso, segundo Mauricio Minas, é o uso de machine learning, ramo da inteligência artificial que utiliza algoritmos para entender demandas e indicar ações. Em instituições bancárias, uma das formas de aplicação acontece na interação com bots, ou seja, agentes virtuais capazes de compreender e executar as solicitações via comunicação remota. “O bot chega a ponto de ser um consultor digital. O cliente pode dizer, por exemplo, que tem 10 mil reais disponíveis e solicitar uma recomendação de investimento. O agente virtual vai entender, buscar e apresentar a melhor opção. É um recurso que as novas gerações usam ativamente”, comenta o executivo.
Machine learning e simulações de risco
Minas também explica que o uso de machine learning pode auxiliar empresas do segmento financeiro com as simulações de risco. Para ele, em uma área que demanda estruturas de capital que permitam o enfrentamento de crises, a previsão se torna uma aliada. “Com o poder computacional, é possível montar cenários agravados, com todos os modelos de riscos por trás”, acrescenta.
De acordo com o executivo, o uso de algoritmos sofisticados é vantajoso, ainda, para a cibersegurança. O conceito, que envolve a forma de proteger sistemas de ataques virtuais maliciosos, é ainda mais relevante para o setor financeiro, responsável pela administração de alvos potenciais, que são os patrimônios. “A segurança também é um ganho fundamental porque os criminosos digitais usam o poder computacional, então se torna um jogo de máquina contra máquina. Com os algoritmos, é possível reagir na mesma proporção e em tempo real”, afirma.
Com o avanço da inteligência artificial, o papel do ser humano na equação também se tornou tema de debates recorrentes. Em junho de 2022, gerou controvérsia a afirmação de Blake Lemoine, engenheiro que trabalhava no Google, de que uma interface da empresa, a LAMda, adquiriu consciência. Para Minas, entretanto, é importante ressaltar que a inteligência artificial nunca poderá substituir o intelecto humano. “Vivemos um processo de sofisticação da inteligência artificial, mas sempre haverá um curador, que é o ser humano. Fazer a curadoria correta é importante tanto para a geração de insumos para os motores quanto para a curadoria da saída, pois existe o risco do motor estar enviesado. Para atividades mais repetitivas, é importante usar a automação e a inteligência artificial, mas direcionando as pessoas para as atividades de capital intelectual. Estamos a anos-luz de termos motores tão brilhantes como o cérebro humano”, comenta.
5G, open banking, metaverso
No universo do avanço digital, são muitas as tendências e produtos que surgem a cada dia, o que posiciona o setor financeiro diante de uma série de termos que ganham relevância no mercado. É o caso das reflexões sobre 5G, Pix, open banking, metaverso, entre outros. Para o executivo, todos esses conceitos são relevantes e devem fazer parte de um olhar atento da sociedade.
O membro do conselho de administração do banco Bradesco destaca, entretanto, que alguns temas estão mais relacionados à nova estratégia das instituições bancárias, baseada em três pilares: serem relevantes e competitivos, com uma experiência do cliente ideal; crescer no mercado que já atuam, com os chamados negócios adjacentes; e desenvolver negócios nativos digitais, como fazem as fintechs. “Como parte dessa jornada está a visão de ecossistema em relação ao cliente, como acontece com o crédito imobiliário, que é atender as necessidades de alguém que precisa comprar um imóvel. Isso vale tanto para imóveis quando para saúde, para agronegócios, para MEI, entre outros domínios”, pontua.
O executivo também destaca a criação de marketplaces, que viabilizam a organização de terceiros pelos bancos. O processo consiste em utilizar a relevância das instituições bancárias para vender produtos, que podem ser financeiros ou não. Outro conceito apontado como relevante para a jornada da nova estratégia é o open banking. O Banco Central (BC) traduz o termo como “sistema financeiro aberto”, em que clientes podem compartilhar informações bancárias entre diferentes instituições autorizadas pelo BC. Também é possível movimentar contas bancárias via diferentes plataformas, sem restrição aos aplicativos ou sites dos bancos.
”O open banking amplia a possibilidade dos dois exemplos anteriores (visão de ecossistema e marketplaces). O cliente pode, por exemplo, fazer uma transação financeira com um banco, optando que o outro honre; pode interagir com o varejo ou com uma fintech, além de enxergar toda a sua situação financeira no app”, explica Minas, acrescentando que o open banking realiza os processos de forma padronizada, por meio dos APIs (sigla para Application Programming Interfaces ou Interface de Programação de Aplicações em tradução livre).
Em alta na esteira da inovação do setor também estão os criptoativos, ativos digitais transacionados de forma eletrônica, viabilizados pela tecnologia blockchain, além das ações ESG (sigla em inglês para environmental, social and governance, correspondente às práticas ambientais, sociais e de governança de uma organização). Para o executivo, o caminho das iniciativas ESG está totalmente atrelado ao futuro: “É uma preocupação adicional para transformar a nossa pirâmide social, que ainda é injusta, além de alcançar uma geração nova, movida por propósitos. O alinhamento às práticas ESG pode mostrar, inclusive, quem vai andar mais rápido no mercado, pois pode impactar a concessão de crédito para empresas”, alerta.
O executivo Mauricio Minas estará no Febraban Tech 2022 moderando o painel “A Nova Realidade e Os Desafios da Economia Mundial”, com o economista Paul Krugman, Nobel de Economia de 2008. O evento é realizado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), de 9 a 11 de agosto, na Bienal de São Paulo, no Parque Ibirapuera. O maior evento de tecnologia e inovação do setor financeiro da América Latina irá debater as tendências e os impactos da inovação no setor financeiro, com destaque para a nova realidade global e a transformação acelerada. Conheça a programação completa e saiba como fazer a sua inscrição no febrabantech.com
MIT Technology Review
