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A tokenização está emergindo como uma tecnologia revolucionária que promete remodelar o cenário financeiro e abrir novas possibilidades para transações digitais. Assim como a internet evoluiu de uma plataforma de sites para se tornar parte integrante do cotidiano com diversas aplicações, a tokenização deverá transformar a forma como lidamos com ativos e transações financeiras.
Baseada na infraestrutura blockchain, essa tecnologia permite a criação de tokens digitais que representam ativos tangíveis ou intangíveis, físicos ou virtuais. Mas o que a torna mais relevante no mercado financeiro, é que permite que os investidores comprem e vendam direitos e créditos de maneira mais eficiente e transparente.
Como exemplifica Reinaldo Rabelo, CEO do Mercado Bitcoin (MB), a maior corretora de criptomoedas da América Latina, “a tokenização pode ser a representação de créditos, de direitos que podem se valorizar, em um token. Pode ser comprado por qualquer um e transferido para a guarda do seu próprio cofre ou outro que você confie mais”.
Essa nova forma de representar ativos traz consigo uma série de vantagens em comparação com os métodos tradicionais. Antes da tokenização, para adquirir direitos ou investir em algo, era necessário recorrer a um arranjo complexo de plataformas intermediárias, confiando que elas protegeriam seus interesses e guardariam adequadamente esses ativos eletrônicos. Além disso, era necessário solicitar permissão dessas plataformas para utilizar os ativos adquiridos.
Com a tokenização, essa barreira desaparece. Os tokens são independentes das plataformas intermediárias, permitindo que os usuários validem informações de forma autônoma e carreguem seus ativos para sua própria carteira digital, escolhendo o banco de sua preferência, por exemplo. Dessa forma, proporciona uma experiência digital mais avançada do que a oferecida pela Web 2.0, a confiança passa a ser baseada na tecnologia e na rede e não nos intermediários.
Rabelo explica que tokenização se assemelha, de certa maneira, à forma como compramos ações ou fundos atualmente, pois o token representa um ativo ou parte de um ativo subjacente. A diferença fundamental é que, ao utilizar a tokenização, estamos adotando um modelo de negócios mais avançado e confiável, apoiado pela infraestrutura da blockchain.
O potencial prático da tokenização
Em março deste ano, o Mercado Bitcoin pagou R$ 697 mil aos detentores do token do Santos Futebol Clube, o Token da Vila (MBSANTOS01). Essa foi a quarta rodada de pagamentos, que já somam mais de R$ 3,3 milhões desde o lançamento deste ativo digital. Esse é um bom exemplo prático de como a tecnologia pode funcionar como investimento: a tokenização dos recebíveis do Santos.
O clube de futebol, como formador de talentos, tem direitos sobre jogadores que foram formados em sua base, como Neymar e Gabigol, por exemplo. Esses direitos podem gerar lucros caso esses jogadores sejam transferidos para outros clubes, graças ao chamado mecanismo de solidariedade da Fifa.
“É algo parecido com o que existe no mundo das artes, o direito de regresso: se eu produzir e vender um quadro por R$100 mil, por exemplo, e depois ele for revendido por R$10 milhões, eu tenho direito a ganhar 5% da transação subsequente. No futebol existe o mesmo princípio. No caso do Santos, se o Neymar for vendido, o Santos tem direito a um percentual dessa operação. Mas esse ativo é ilíquido; o Santos até tem esse direito contabilizado, de alguma forma, no balanço do clube, mas não podia fazer nada com ele. Não podia pegar empréstimo em cima desse ativo, ele não podia vender.”
É aqui que entra a tecnologia blockchain e os smart contracts. Por meio da tokenização, o direito do Santos passou a ser representado por tokens, permitindo que o clube monetizasse esse ativo. Os torcedores que possuem os tokens, além de torcer pelos jogadores formados em sua base, agora têm a oportunidade de obter lucros. A última rodada de pagamentos, por exemplo, se deveu à transferência do jogador Emerson Palmieri para o West Ham United, por um valor de € 13 milhões. Do ponto de vista de negócios e Marketing, Rabelo destaca que “é uma forma de fazer essa monetização simples, barata e ainda se conectar com a sua comunidade de consumidores”.
Além disso, os tokens podem desempenhar outras funções, como acesso a determinados eventos ou serviços exclusivos. Por exemplo, existe a possibilidade de tokenizar a propriedade de um imóvel compartilhado. Cada coproprietário receberia um token que daria acesso às áreas comuns da propriedade, e a tecnologia permitiria o agendamento e o controle dos dias de uso.
Outro exemplo é a tokenização de obras de arte físicas. Rabelo menciona que o Mercado Bitcoin investiu na Nano Art Market / Tropix, que utiliza a tecnologia dos tokens não fungíveis (NFTs) para representar a propriedade de obras de arte reais. Isso facilita a negociação e fornece um histórico mais transparente das transações envolvendo as obras tokenizadas. Com um NFT representando a propriedade, os compradores da arte podem ter acesso a informações precisas e confiáveis, simplificando o processo de compra e venda.
Embora ainda existam desafios a serem superados e a adoção completa da tokenização em diferentes setores possa levar algum tempo, a tecnologia está pronta para revolucionar o mercado. Hoje, o foco maior está no mercado financeiro, mas a tokenização tem o potencial de se estender a diversas áreas, certificando propriedades, possibilitando o compartilhamento de ativos e simplificando processos complexos. À medida que mais empresas e indivíduos compreendem os benefícios práticos, é provável que surjam cada vez mais casos de uso e aplicações inovadoras.
O impacto além do aspecto financeiro
Embora muita atenção seja dada ao setor financeiro, o potencial transformador da tokenização se estende também para outros setores como agricultura, imóveis e energia. A aplicação prática dessa tecnologia nesses setores em maior escala é apenas uma questão de tempo, na visão de Reinaldo Rabelo.
No setor agrícola, por exemplo, já existem casos de moedas relacionadas a commodities. “Nesse setor, as pessoas estão muito acostumadas a negociar produtos, então se conseguirmos tokenizar essa relação, ficará muito mais simples e fácil”, destaca o CEO.
A tokenização tem também o potencial de impactar positivamente a sociedade como um todo. Rabelo menciona dois aspectos: o privado e o social. No aspecto privado, destaca que a tokenização reduz a necessidade de intermediários, especialmente em setores como o mercado financeiro. “Se eu posso comprar um token direto do Santos, por que eu precisaria de um assessor de investimentos, de um banco ou de uma Bolsa?”, ele exemplifica.
No âmbito social, Rabelo faz um paralelo com o auxílio emergencial durante a pandemia, que envolveu vários intermediários antes que o dinheiro chegasse aos cidadãos. “Imagine se já tivéssemos o Real Digital. Seria possível atrelar uma carteira para cada CPF e o cidadão não precisaria abrir a conta no banco responsável, baixar o aplicativo, pegar o cartão, depois ir ao caixa sacar.”
Outro aspecto importante, é que um token desse tipo poderia ser programado para garantir que recurso só pudesse ser gasto nas necessidades para as quais foi pensado. O auxílio emergencial, por exemplo, só poderia ser usado para as necessidades básicas de subsistência das pessoas vulneráveis, evitando fraudes.
Essa mesma lógica de aplicação, de acordo com Rabelo, poderia ser usada na criação de mecanismos de impostos, por exemplo, especialmente em políticas para taxação de grandes fortunas de maneira mais justa e assertiva. “Vejo muitos bilionários falando que estão, de fato, pagando poucos impostos, mas ninguém quer pagar mais impostos para o Estado. Talvez, essas pessoas pagassem mais impostos se elas tivessem certeza absoluta de que esse dinheiro estaria sendo direcionado para os devidos fins. A tecnologia permite isso, poderíamos fazer com que esse imposto sobre grandes fortunas fosse depositado com um mecanismo de smart contracts que distribuísse isso imediatamente para os devidos indivíduos.”
Essa abordagem garantiria que os recursos fossem direcionados corretamente, reduzindo ou eliminando a possibilidade de desvios. Por isso, a tokenização é a tecnologia capaz de aumentar a eficácia, agilidade e transparência nas relações comerciais e em diversos setores, oferecendo benefícios tanto no âmbito privado quanto no social. Com o avanço contínuo da tecnologia e sua adoção cada vez maior, é certo que veremos um futuro no qual a tokenização se torne uma ferramenta amplamente utilizada, trazendo transformações positivas para a sociedade.