Telemedicina amplia acesso à saúde
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Telemedicina amplia acesso à saúde

O alcance das ferramentas de telessaúde e telemedicina durante a pandemia mostrou como a população se beneficia com esses recursos. A modernização do setor passa por um modelo híbrido, entre procedimentos presenciais e remotos.

Em um mês, mais de 150 teleconsultas foram feitas por moradores de comunidades ribeirinhas de Santarém, pequena cidade do Pará onde os rios Tapajós e Amazonas se encontram. Esse número pode ser considerado pequeno quando comparado a mais de 4,2 milhões de atendimentos online realizados de abril de 2020 a agosto de 2021, conforme dados da Associação Brasileira dos Planos de Saúde (Abramge), consolidados a partir de operadoras associadas responsáveis pela cobertura de 9 milhões de beneficiários. Mas ainda assim é um recorte muito significativo que nos mostra qual o alcance das ferramentas de telessaúde e telemedicina e como a população brasileira pode se beneficiar com esses recursos. E, no futuro, como um modelo híbrido entre procedimentos presenciais e virtuais pode modernizar o setor.

Sempre é bom lembrar que estamos falando de um país com dimensões continentais, quinto maior do mundo em área territorial, população de 213 milhões de pessoas que, em sua maioria, estão concentradas nos grandes centros urbanos e com baixa densidade em áreas mais afastadas e rurais. Ao todo, são 5.570 municípios dos quais apenas 49 com mais de 500 mil habitantes.

Não se trata de uma tarefa fácil levar a medicina para toda essa população, mesmo nas cidades mais populosas. Mas a pandemia da Covid-19, com toda a tristeza, luto e apreensão que causou, nos apontou caminhos para essa inclusão dos serviços médicos que podem garantir à telemedicina um espaço nobre em nossas atividades mesmo quando tivermos superados todos os obstáculos para o convívio social.

A tecnologia tem se mostrado aliada de setores econômicos muito antes da pandemia, mas não há dúvidas de que desde 2020 o digital se tornou mais presente na vida dos brasileiros. Foram compras online, entregas de refeições, educação à distância, entretenimento e, por que não, o próprio home office. A saúde, ponto vital nesse período, não ficou para trás e soube responder à altura.

No estudo Perspectivas Globais do Setor de Saúde 2021, feito pela Deloitte, entre as mudanças fundamentais que estão ocorrendo — e foram intensificadas com a Covid-19 — e vão exigir respostas organizacionais e ecossistêmicas do setor de saúde há questões urgentes.

São elas o maior envolvimento dos consumidores na tomada de decisão sobre cuidados com a saúde, a rápida adoção de consultas virtuais e outras inovações em tecnologias digitais, a necessidade de dados interoperáveis e uso de análise de dados e, por fim, colaborações “sem precedentes” entre os setores públicos e privados no desenvolvimento de tratamentos e vacinas.

Para atender a esses alertas, a transformação digital no setor de saúde se torna imperativa. No Brasil, ela já vinha acontecendo dentro do possível e a rápida disseminação da Covid-19 se configurou como acelerador de investimentos nessa área. Mas ainda há muitos desafios pela frente.

Para a atividade de medicina online há um cenário no mercado brasileiro que merece uma boa análise. Segundo dados da pesquisa TIC Domicílios 2020, feita pelo Cetic.Br, 83% dos lares brasileiros têm acesso à Internet, uma expansão de 12% sobre o período anterior. Isso representava 152 milhões de pessoas conectadas.

Enquanto 100% da classe A e 99% da classe B têm acesso à web, a classe C teve um aumento de 11 pontos percentuais no período. Mas o maior crescimento foi na classe D/E, 14%, passando de 50% para 64%. O meio rural, por sua vez, foi o campeão em novos acessos durante a pandemia, com expansão de 17 pontos percentuais (53% para 70% dos domicílios).

Quando falamos de velocidade de acesso, um item de grande importância para ferramentas mais avançadas de medicina, relatório da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostra que a faixa acima de 34 Mbps está sendo a mais procurada este ano nos movimentos de trocas de contratos de menor para maior velocidade. Os acessos de fibra óptica também avançaram e a telefonia móvel, depois de retração anual nos três anos anteriores à pandemia, voltou a crescer. No final de 2020 eram 234 milhões de assinaturas móveis.

Foi com esse quadro e medidas restritivas de mobilidade que a telemedicina deu importantes passos no Brasil. É bom lembrar como a regulamentação dessa atividade vem sendo tratada no país. A primeira norma que permitiu que a relação médico-paciente pudesse ser feita virtualmente em áreas geograficamente remotas foi assinada em fevereiro de 2019, mas revogada 15 dias depois. Em abril de 2020, a portaria 467 do Ministério da Saúde finalmente autorizou o uso de telemedicina, mas apenas durante a pandemia.

Foi o suficiente para que a atividade ganhasse destaque. A Sinch, empresa especializada em comunicação em nuvem, fez uma pesquisa sobre a transformação dos hábitos das pessoas durante a incidência da Covid-19 em mais de 40 países e detectou que na amostra global 38% utilizou a telemedicina. No Brasil, a taxa de adesão foi maior com 43% dos pesquisados informando que fizeram consultas online. E mesmo para os 65% dos brasileiros que não fizeram uso da telemedicina há consciência de que se trata de uma ferramenta útil.

Os dados mais detalhados do mercado brasileiro mostram que 43% dos pesquisados utilizam canais digitais para agendar consultas, 50% para confirmar agendamentos, 17% para avaliações médicas e 23% receberam comunicados sobre a pandemia de seus planos de saúde.

A pandemia também mostrou que parcerias são bem vindas. A experiência piloto de telemedicina em Santarém, citado por mim no início do artigo, serve mais uma vez como um recorte para isso. Para viabilizá-la, se reuniram o projeto Saúde e Alegria, uma iniciativa civil sem fins lucrativos que atua desde 1987 na Amazônia, a Semsa (Ouvidoria Municipal do SUS, sistema público de saúde), o ClubSaúde, programa de benefícios e descontos para saúde e bem-estar.

Como essa, outras tantas ocorrências com telemedicina aconteceram durante a pandemia. Com esse mecanismo acelerado, a discussão sobre sua regulamentação após o período pandêmico se dará em novos patamares, provavelmente abraçando a inovação tecnológica para a qual o setor vem se preparando e está ávido para que possamos atingir mais brasileiros e com mais excelência.

Também há expectativas de que teremos pela frente um mercado híbrido entre atendimentos e procedimentos virtuais e presenciais, ou seja, um universo figital, como passou a ser denominado o conceito dessa união do físico e digital entregue para o cliente. É o conceito da novidade com o contemporâneo, com o objetivo de ampliar o acesso à saúde, oferecendo assim mais opções aos pacientes.


Este artigo foi produzido por Carlito Marques, Presidente da Universidade Corporativa Abramge (UCA).

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