Gestão em saúde no Brasil exige inovação e flexibilidade
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Gestão em saúde no Brasil exige inovação e flexibilidade

Boa governança pode estimular equilíbrio financeiro do setor em meio ao aumento de gastos na oncologia.

O câncer é a segunda maior causa de mortes no mundo1. De 2003 a 2025, são esperados 704 mil novos casos no Brasil, com 70% das incidências nas regiões Sul e Sudeste, segundo o estudo “Estimativa 2023: Incidência de Câncer no Brasil”, do Instituto Nacional de Câncer (INCA)2. Além de um alerta para a população, o índice representa um enorme desafio de sustentabilidade financeira para a saúde pública e suplementar.

Impactadas pelo envelhecimento populacional, crise econômica, fraudes e desperdícios, as operadoras privadas de saúde registraram um prejuízo operacional de R$10,7 bilhões em 2022. Até o terceiro trimestre de 2023, o resultado foi deficitário em R$2 bilhões 3.

Se nada mudar, essa somatória de problemas deve pressionar cada vez mais o sistema, que é comparado a uma “panela de pressão”. Gestores buscam evitar a explosão com estratégias de operação, investimentos e consolidação de estratégias de atenção primária.

Na avaliação do oncologista e ex-ministro da saúde Nelson Teich, nenhum sistema de saúde é sustentável, mas deve se adaptar à realidade em que se encontra. “O sistema não vai à falência, quem quebra é a operadora. O equilíbrio financeiro é mais uma questão de gestão do que de sustentabilidade. O grande problema é que a gestão não está acompanhando a inovação e o sistema está ficando cada vez menos eficiente”, analisa.

Criar uma estratégia que priorize os clientes é fundamental para fazer uma gestão eficiente, uma vez sempre existem demandas na saúde. “Já tivemos a hepatite, a Covid-19 e este ano deve ser o ano do remédio para emagrecer. Tratamentos para doenças raras devem chegar com mais força no Brasil, e cada medicamento custa mais de US$ 3 milhões nos EUA. Para fazer a gestão de tudo isso, é preciso conduzir o sistema”, avalia o ex-ministro.

A pesquisa “Quanto custa tratar um paciente com câncer no SUS”, elaborada pelo Observatório de Oncologia e pelo Movimento Todos Juntos pelo Câncer, aponta que o tratamento oncológico no Sistema de Único de Saúde (SUS) atingiu o valor de R$ 3,9 milhões em 2022. O cálculo inclui despesas na área de assistência hospitalar e ambulatorial4.

Aumento nos custos

De acordo com o estudo, de 2018 a 2022, houve um aumento de 402% no custo médio da quimioterapia, radioterapia e imunoterapia. Um procedimento que em 2018 custava R$ 151,33 passou para R$ 758,93 em 2022. O custo médio da internação chegou a R$ 1.082,22 e o gasto com cirurgia alcançou R$ 3.406,07⁴.

Para se ter uma ideia, em 2023, cada paciente brasileiro teve uma despesa assistencial de aproximadamente R$ 2 mil SUS. Na saúde suplementar, esse valor foi para R$ 5 mil ao ano5.

Segundo o ex-ministro, a crise do sistema de saúde fica mais evidente quando os custos assistenciais per capita do país são comparados aos do exterior. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento (OCDE) apontam que as despesas com saúde na Alemanha são de R$ 22 mil, enquanto na Dinamarca são de R$ 30 mil e nos Estados Unidos, R$ 60 mil6.

“Você tem um lugar que gasta dois, um lugar que gasta cinco e tenta se comparar com quem gasta 30? Imagine várias pessoas de diferentes alturas paradas em uma piscina com a água entrando? Os menores vão se afogar mais rápido”, exemplifica Teich.

Diagnóstico precoce

Priorizar a prevenção é a melhor forma de reduzir gastos com tratamento oncológico e gerar mais qualidade de vida aos pacientes. Mas, ainda assim, Teich reforça que o diagnóstico precoce ralizado pelo SUS é diferente do realizado pela saúde suplementar. “Nos estágios iniciais, os procedimentos são os mesmos. Mas, quando a gente olha pacientes com casos mais avançados, a diferença de sobrevivência chega a 50%”.

A tecnologia tem potencial para acelerar o desenvolvimento de aplicações para diagnóstico e enfrentamento do câncer, mas ainda precisa ser democratizada no país. O artigo “The Global Patent Landscape of Artificial Intelligence Applications for Cancer” (O panorama global de patentes de aplicações de inteligência artificial para o câncer, em tradução livre), escrito por pesquisadores da Fiocruz e publicado pela revista científica Nature em 2023, mostra que o mundo pode ter até 390 novos registros de patentes de Inteligência Artificial (IA) com aplicações na área oncológica por ano até 20277.

De 1999 a 2022, o estudo identificou 749 registros no mundo, sendo dois deles no Brasil. De acordo com os pesquisadores da Fiocruz, a análise de imagens por IA esteve presente em 43% das patentes registradas. O tema inclui aplicações de tecnologia para segmentar e classificar imagens médicas, como radiografia, ressonância e tomografia, para um diagnóstico mais preciso e acelerado⁷.

“Aplicações de IA na área oncológica têm o potencial de transformar o estado da arte, contribuindo para a redução da mortalidade por câncer no futuro próximo”, afirmam Luiza Braga, Renato Lopes, Luiz Alves e Fabio Mota, pesquisadores do estudo, no site do Instituto Oswaldo Cruz8.

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