Há tempos, adjetivos como burocrático, arcaico e complexo eram os mais utilizados para definir instituições financeiras e outras temáticas relacionadas a esse mercado. Entretanto, os avanços tecnológicos deram origem às fintechs, que são disruptivas e altamente inovadoras e já estão transformando completamente essa perspectiva.
Esse cenário ficou ainda mais evidente após a pandemia, que praticamente obrigou todos os setores da economia a se reestruturarem e se reinventarem. Nesse sentido, o segmento financeiro também foi fortemente impactado pela crise sanitária e pudemos observar um crescimento significativo da demanda por novos modelos de negócio e soluções mais centradas no cliente e suas necessidades.
Segundo relatório realizado pela Liga Ventures, referência em inovação aberta na América Latina, o Brasil possui 808 startups ativas que atuam no setor financeiro e que estão divididas em 40 categorias distintas. Entre as mais proeminentes estão: gestão financeira (8,17%); meios de pagamento (7,92%); contabilidade e fiscal (6,93%); conta digital (6,81%); crypto currencies (5,82%); crédito direto (4,83%); investimento (4,7%).
Ao analisarmos a origem regional dessas empresas, podemos observar que São Paulo se destaca com 57%. Em seguida, Minas Gerais (8%), Santa Catarina (7%), Paraná (7%), Rio de Janeiro (6%), Rio Grande do Sul (4%), Distrito Federal (2%), Espírito Santo (2%), Pernambuco (2%) e Ceará (1%). Esses dados evidenciam que o setor tem se expandido por diversas cidades, destacando a versatilidade geográfica das startups e seu potencial de sucesso nas mais diversas condições.
Já com relação às plataformas e tecnologias mais usadas nesse segmento, o relatório mostra uma diversidade de ferramentas adotadas: API (30%), Data Analytics (27%), Dashboard (14%), Relatórios Automatizados (10%) e Marketplace (10%). O uso expressivo dessas ferramentas tecnológicas indica como o segmento de finanças está atento às transformações da sociedade e focado em se preparar para atender às novas demandas dos consumidores, que pedem por agilidade, personalização e transparência.
A pesquisa ainda apresenta outros indicadores relevantes para entendermos mais sobre as mudanças ocorridas no setor. Cerca de 35% das startups foram criadas entre 2019 e 2022, o que mostra que houve um crescimento robusto antes da pandemia que se manteve até o ano passado. Além disso, de 2020 a 2023, as categorias de startups com mais destaque foram contas digitais (9%), gestão financeira (7%); meios de pagamento (7%); criptomoedas (6%) e crédito direto (6%).
Com relação aos investimentos, as startups de crédito direto foram as que mais atraíram a atenção dos investidores (22%), seguidas por aquelas com serviços voltados para conta digital (20%). Entre janeiro de 2022 e junho de 2023, 55 acordos de investimento foram firmados — e vale ressaltar que 58% das startups têm como público-alvo, principalmente, o mercado B2B.
Esses dados mostram o enorme potencial de crescimento das fintechs, bem como as múltiplas frentes nas quais elas podem operar. Como resultado, sua ascendência no mercado financeiro atrai um interesse significativo de investidores, impulsionando, por sua vez, a proliferação de novas startups nesse setor. Esse fenômeno está efetivamente redesenhando as fronteiras do ecossistema financeiro tradicional, forçando a adaptação e inovação por parte de instituições mais antigas e estabelecendo um novo paradigma de soluções marcado por agilidade, acessibilidade e tecnologia de ponta.
A pesquisa Fintech Deep Dive 2023, elaborada em colaboração entre a Associação Brasileira de Fintechs e a PwC Brasil, revela outras tendências fascinantes. Mais da metade (56%) dessas fintechs focam no mercado B2B e um impressionante total de 31% capturou investimentos superiores a R$ 10 milhões. Além disso, uma expectativa otimista é que 55% delas têm a previsão de dobrar sua receita este ano.
No entanto, o caminho percorrido pelas fintechs não está livre de obstáculos. O relatório identifica vários desafios que atrapalham seu crescimento relacionados diretamente ao capital. A crise econômica e política é vista como a principal barreira por 52% delas, enquanto 26% atribuem isso à falta de visibilidade da empresa no mercado. Há também preocupações sobre a escassez de investidores, com 25% indicando isso como uma adversidade.
Dentro desse contexto dinâmico, as fintechs estão buscando oportunidades de expansão. Quase metade (44%) está em fases de expansão ou consolidação. A internacionalização também está no horizonte dessas empresas, com muitas delas já operando além das fronteiras brasileiras ou com planos de fazer isso. De fato, 29% já estabeleceram holdings no exterior.
Esses números e as notícias envolvendo o setor financeiro nos mostram que ele está evoluindo rapidamente — e esse cenário deve se manter por muito tempo. As inovações surgem principalmente em resposta às necessidades dos consumidores modernos, que os bancos tradicionais muitas vezes têm dificuldade em atender. A tecnologia também desempenha um papel fundamental nessa transformação, oferecendo soluções mais ágeis, personalizadas e focadas em dados.
Isso porque a nova era financeira é caracterizada por clientes que buscam mais do que simples serviços bancários como armazenamento e gerenciamento do capital. Agora, eles procuram plataformas que simplifiquem suas vidas diárias, forneçam insights baseados em dados e ofertem produtos personalizados de acordo com suas demandas específicas. Tudo isso enquanto garantem transações seguras, transparentes e eficientes.
O Banco Central do Brasil reconheceu essa evolução e necessidade de oferecer um atendimento diferenciado e implementou agendas modernizadoras. O grande destaque recente tem sido o Pix, um sistema de pagamentos instantâneos que processa transações em questão de segundos, de forma prática e sem custos adicionais.
E o sucesso da ferramenta está refletido nos números. De acordo com o relatório Mercado de Pagamentos em Dados, do Instituto Propague, modalidades de pagamento como Pix e cartões de crédito compuseram 76% das transações no primeiro trimestre deste ano, sendo que 34,7% foram com Pix e 41,2% com cartão, resultando em R$180 bilhões gastos de maneira digital.
A evolução tecnológica também nos apresenta como tendência para o mercado de finanças a biometria facial, que proporciona transações mais seguras, e a Inteligência Artificial, que otimiza a análise dos dados e permite entender melhor o comportamento dos consumidores e seus desejos, promovendo uma personalização ainda maior da experiência do cliente. Ambas trazem mais facilidade, agilidade e comodidade em todos os processos e transforma a relação do público tanto com o dinheiro, quanto com as instituições financeiras.
Outra ferramenta que será disponibilizada para o mercado até o final de 2024 é o sistema de pagamento via Drex, que por enquanto está em fase de testes, mas já acumula grandes expectativas das organizações e do público. Ele irá funcionar via blockchain, o que possibilitará um combate mais assertivo às fraudes e inúmeras facilitações para os consumidores. Já o Open Finance, sistema que tem sido amplamente adotado pelas empresas financeiras, traz vantagens significativas ao ajudar os usuários a terem mais domínio sobre os gastos e melhorarem sua saúde financeira.
E vale ressaltar que a combinação de novas aplicações entre as instituições financeiras e as fintechs trará cada vez mais benefícios, ajudando na democratização dos dados e impulsionando ainda mais esse setor. Segundo um estudo feito pela Ipsos, terceira maior empresa de pesquisa e de inteligência de mercado do mundo, 52% dos brasileiros aceitam disponibilizar suas informações financeiras a essas instituições desde que isso traga novos insights que auxiliem na tomada de decisão.
Outro resultado positivo do avanço tecnológico constante no setor financeiro é a exploração cada vez maior dos ecossistemas digitais. Ainda em fase de entendimento e análise pelas companhias, esses sistemas têm potencial para redefinir a interação financeira, eliminando intermediários e simplificando processos. Sua adoção trará uma revolução para o segmento e visa proporcionar soluções integradas para os consumidores, incentivando colaborações e eficiência operacional.
A partir do acesso à tokenização e do desenvolvimento de novos negócios, os empreendedores conseguem utilizar os benefícios dos sistemas financeiros digitais de maneira mais igualitária e fluida. Isso porque a tokenização permite a representação de ativos tangíveis e intangíveis na forma de tokens digitais, tornando a transação e transferência de valor mais acessível e segura, o que resulta em maior igualdade de acesso aos recursos financeiros e em um ambiente protegido, com menor risco de fraudes. A descentralização inerente à tecnologia blockchain, frequentemente usada na tokenização, garante a integridade das transações, promovendo uma economia mais justa e transparente para empreendedores e investidores.
Portanto, a partir dos insights apresentados, é evidente que o mercado financeiro está em transformação e se relacionará gradativamente mais diretamente com a experiência e jornada dos consumidores que, por sua vez, procuram por produtos e serviços personalizados. Paralelamente, é possível observar a ação de criminosos tentando burlar sistemas e se aproveitar das brechas ainda existentes. Devido a isso, é imperativo que as companhias enxerguem essa pauta como prioridade e reforcem a privacidade, segurança e infraestrutura tecnológica para prevenir contratempos no futuro e garantir que a transição para plataformas e soluções baseadas em tecnologia seja positiva para todos os envolvidos e tenha menos atrito possível. Isso fará com que o setor financeiro evolua cada vez mais.
Nesse cenário, a aceitação e adesão das inovações tecnológicas por parte do público é crucial, o que reforça a necessidade de desenvolver estratégias eficazes para aumentar seu engajamento, confiança e fidelização às marcas. Dessa forma, as instituições bancárias não podem ignorar e subestimar o valor da hiperpersonalização. Implementar soluções que atendam diretamente às demandas de seus usuários só ampliará a relevância e a presença das inovações no panorama financeiro, além de destacar a empresa no mercado e diferenciá-la da concorrência, tornando os clientes fiéis a uma determinada marca.