Você acha que o mundo, seu país e a vida em geral pioraram ou melhoraram nos últimos 10 anos?
Em todo o mundo, a grande maioria das pessoas que escuta esta pergunta responde que tudo piorou. Será verdade?
É inegável que, nos dois últimos anos, a pandemia trouxe mais mortes, preocupações, desemprego e inflação e, mais recentemente, a guerra na Ucrânia trouxe novas preocupações, mas uma análise desapaixonada de vários outros dados mostra uma realidade bastante diferente.
De 10 anos para cá, a fome, a miséria e o número de homicídios despencaram no mundo. No Brasil, onde a taxa de homicídios era e ainda é bem maior que a média mundial, a queda do número de homicídios foi ainda maior. Aqui, a renda per capita encolheu nos últimos 10 anos e a taxa de desemprego é das maiores que já tivemos, mas em grande parte do resto do mundo, a taxa de desemprego é das menores da História e a renda das pessoas é a mais alta já registrada.
De onde, então, vem a percepção de piora generalizada? Um fator importante foi a aceleração da velocidade de disseminação de notícias.
A internet e as redes sociais trouxeram grandes mudanças; muitas delas boas; outras não. Uma dessas mudanças foi uma aceleração da disseminação das notícias e, por consequência, um mais rápido envelhecimento das notícias, levando as pessoas, cada vez mais, a focarem na notícia do momento, independentemente de sua relevância nas vidas delas.
Por que isto importa? Porque destruições são quase instantâneas, mas construções demoram a acontecer. Como o processo de construção – de um melhor modelo educacional, de um melhor sistema de acesso a alimentos ou de um sistema de energia acessível – é lento, ele não é notícia. As pessoas querem saber o que está acontecendo neste exato momento. O acontecimento momentâneo que chama a atenção normalmente é um desastre, um acidente, um problema ou algum acontecimento absurdo. Por isso, cada vez mais, o que é noticiado e, ainda mais o que é notado pelas pessoas são exatamente as catástrofes. Sendo bombardeadas e prestando atenção diariamente a centenas de notícias ruins, é natural que as pessoas acreditem que tudo está piorando.
O processo de seleção natural reforçou, ao longo tempo, nos seres humanos a característica de prestar mais atenção aos problemas e riscos do que às coisas boas. Na savana, as pessoas que se assustavam e corriam ao ouvir o rugido do leão sobreviveram e tiveram a chance de ter filhos e passarem seus genes que prestam atenção às más notícias para frente. Já as que não davam bola para más notícias viraram comida de leões.
Muita gente se queixa que a mídia foca, em geral, nas más notícias. É fato que isto acontece. A parte importante é por que isso acontece. A razão é que as pessoas dão mais atenção às más notícias. A mídia sobrevive de audiência. Se as pessoas focam mais nas más notícias, a mídia naturalmente noticiará o que as pessoas focam.
Só que a confluência destes fatores está criando uma falsa percepção de que tudo só piora. Se esta percepção não for revertida, acabará se transformando em uma profecia auto-realizável. O que causou melhorias gigantescas de expectativa de vida, riqueza e liberdade foram inovações que só aconteceram porque muita gente acreditou que era possível mudar para melhor. Só acreditar na possibilidade de melhorar não garante nada, mas sem acreditar que é possível mudar as coisas para melhor, nada será feito para que elas melhorem e elas não irão melhorar. A falsa percepção de piora generalizada está paralisando cada vez mais gente. Se isso se generalizar, a humanidade e o Brasil estarão fadados à decadência.
Otimismo é fundamental, mas não otimismo ingênuo e sim um otimismo realista e construtivo. Para serem solucionados, os problemas precisam ser reconhecidos e compreendidos. Ao mesmo tempo, as pessoas precisam acreditar que eles podem ser solucionados.
Exatamente por isso, há muitos e muitos anos, enfatizo em minhas palestras, posts e entrevistas não apenas quais são os problemas nacionais e suas potenciais soluções, mas os infindáveis casos concretos de pessoas no Brasil e no mundo fazendo coisas sensacionais em todos os campos da vida – negócios, tecnologia, ciência, esportes, educação, saúde, artes, etc. Estas pessoas mostram que todos nós podemos fazer coisas incríveis e que há muita coisa melhorando muito, mas estas coisas apenas não estão no radar da maioria das pessoas.
Este artigo foi produzido por Ricardo Amorim, economista mais influente do Brasil segundo a Forbes e Influenciador nº 1 no LinkedIn.