O impacto quântico na exploração espacial 
Podcast

O impacto quântico na exploração espacial 

E como essa tecnologia pode trazer benefícios para a sociedade

Neste episódio do podcast da MIT Technology Review Brasil, André Miceli, Carlos Aros e Rafael Coimbra conversam sobre a exploração espacial e o impacto dela na vida na Terra, com foco na tecnologia quântica e suas aplicações.

Além disso, discutem como essa exploração pode trazer benefícios para a sociedade, desde a conectividade global até o desenvolvimento de novas indústrias e oportunidades econômicas. Eles também abordam os desafios éticos e sociais associados ao avanço da tecnologia espacial, incluindo questões de acesso, educação e governança.

Este podcast é oferecido pelo SAS.


Transcrição

[TRILHA SONORA]

[ANDRÉ MICELI]

Olá! Sou André Miceli e este é mais um podcast da MIT Technology Review Brasil. Hoje eu, Rafael Coimbra e Carlos Aros vamos falar sobre como a exploração espacial pode mudar nossa vida aqui na Terra. Entre os vários programas que diversos países estão rodando neste momento, a iniciativa do Reino Unido tem atingido patamares interessantes, impulsionado pelo crescente apoio governamental a tecnologias emergentes, como a computação quântica.

Por aqui, temos visto uma série de promessas e planos sobre o que podemos fazer fora da nossa atmosfera, mas também há um grande debate sobre o que isso significaria para nós.

Antes de começar, eu quero dizer que este podcast é um oferecimento do SAS, líder em analytics, e fazer aquele convite semanal: entre para a nossa comunidade em www.mittechreview.com.br/assine. Ela está crescendo muito e você não pode ficar de fora!

Rafael Coimbra, há um debate sobre o impacto social da tecnologia espacial. Vira e mexe a gente ouve este tipo de questionamento: “para que investir em tecnologias para levar o homem para fora do planeta quando o planeta está cheio de problemas?” Enfim, existe esse tipo de juízo de valor sobre a importância desses investimentos.

Com o avanço dessas iniciativas, os planos para colonizar o espaço e outros recursos, podemos mudar a vida aqui na Terra. Quero conversar com você sobre isso. Por exemplo, recursos de computação por satélite trazem um potencial importante para transformar a conectividade global, especialmente em áreas menos desenvolvidas. O que mais pode acontecer? Como esses avanços podem ajudar a reduzir a desigualdade digital e social, e melhorar a qualidade de vida na Terra?

[RAFAEL COIMBRA]

Pois é, André, a gente tem que pensar num planejamento estratégico de longo prazo para o espaço. Então algumas soluções que hoje são colhidas, foram pensadas lá atrás. Você deu um exemplo pragmático de algo que hoje muda a vida das pessoas. Quando falamos de satélites de baixa órbita que transmitem internet, isso faz com que uma lacuna da sociedade — ou seja, as empresas de telecomunicações que não chegam a determinados pontos — seja suprida por esses satélites que fornecem internet para localidades mais distantes.

Quando falamos de internet, não é aquela usada para ficar nas redes sociais ou jogando. Estamos falando de levar educação, bancarização, gerando oportunidades para que uma pessoa que esteja mais isolada torne-se um cidadão digital, no mundo cada vez mais digital.

Esse é um exemplo concreto de algo que está acontecendo hoje. Quando a gente olha para o longo prazo (por isso eu acho muito importante a gente falar em estratégia), quando a gente olha para estratégias de países como os Estados Unidos, como a Inglaterra, observamos que existe, ali, um olhar coordenado, em que, obviamente, o governo tem um papel de catalisador. Mas existem empresas, a academia e existem parceiros internacionais.

Se a gente pegar o exemplo da Inglaterra, vemos muito claramente, isso. É um projeto muito bem desenhado para que haja um passo a passo ao longo dos próximos anos. Então, governos estabelecem uma meta (até 2030 a gente quer o quê? Como vamos chegar até lá?), e isso, que parece simples (nem temos isso muito robustamente aqui no Brasil), para essas nações mais desenvolvidas é muito claro.

Então, usando um exemplo de mais longo prazo, como você colocou, se a gente pegar a computação quântica, parece uma coisa meio estranha, certo? Já achamos meio confuso fazer projeto de computação quântica na Terra. Será que no espaço isso poderia prosperar? Sim, porque existem vantagens de, por exemplo, você trabalhar com algumas pesquisas — no caso, a computação quântica.

Sabemos que o computador quântico necessita de um ambiente muito mais controlado, ele tem muito mais interferências externas que podem ser causadas pelo ambiente que o cerca. Quem já viu uma foto ou um vídeo de um computador quântico, nota que ele é todo protegido, tem que trabalhar a uma temperatura muito baixa. E são exatamente essas condições, que a gente simula aqui na Terra para que esse computador possa trabalhar na sua máxima performance, que já existem naturalmente no espaço. A gente tem uma temperatura superbaixa no espaço, a gente tem o vácuo, a gente tem microgravidade, então tem elementos que simplifica a vida.

Por um lado, óbvio, é mais complicado você levar esse tipo de tecnologia para ser trabalhada ou montada. Mas você pode, de repente, montar um computador quântico aqui, lançá-lo para espaço, depois fazer os ajustes necessários, por exemplo. Fato é que existe um ambiente no qual essa tecnologia pode ser trabalhada e desenvolvida e, por que não gerar retorno para a sociedade? Esse retorno pode ser desde o desenvolvimento tecnológico — e aí tem-se uma nação, como eu estou citando aqui, por exemplo, a Inglaterra, que pode se tornar líder em computação quântica espacial, é isso que se propõe —, mas obviamente que também os desdobramentos dessas tecnologias podem trazer retornos para a sociedade, seja nesse ganho de economia — imagine a criação de uma nova indústria, é algo novo, é algo que ninguém está fazendo ainda em larga escala; imagine um país criar (vimos isso com empresas de tecnologia no Vale do Silício, elas são hoje gigantes internacionais que geram emprego, receita, tributos para o seu país de origem). Quando a gente pensa nesses novos mercados vindos do espaço, também podemos pensar nisso: vai estimular a economia, vai gerar emprego e, obviamente, trazer retornos para a sociedade.

[ANDRÉ MICELI]

Carlo Aros, essa história da Computação Quântica Espacial pode ter desdobramentos que são muito grandes, como todos esses pontos que o Rafael trouxe. Mas do ponto de vista prático, para a pesquisa espacial, a computação quântica pode ajudar em questões significativas — avaliação de cenários, processamento de dados em larga quantidade, como os que as agências espaciais precisam lidar. Tem algumas questões que são relevantes demais e que a computação quântica pode ajudar, como no processo de colonização de outros planetas, de habitação de outros planetas e de viagens espaciais no geral.

Queria te pedir para elaborar um pouco sobre isso. De que forma você imagina — até aqui a gente olhou para dentro, agora eu quero olhar para fora. Quais são os impactos que a computação quântica pode trazer na pesquisa espacial?

[CARLOS AROS]

Acho que o ponto que o Rafael coloca sobre planejamento e estratégia é bem importante para esse aspecto, também, que você coloca, André. Porque o que temos hoje é uma espécie de consórcio, vamos colocar dessa maneira. Nós temos governos trabalhando em parceria com empresas, desenvolvendo e modelando tecnologias, fortalecendo estruturas para ampliar a capacidade de pesquisa, sobretudo. A gente fala sobre as viagens que podem ser feitas agora em um volume muito maior — aliás, a gente citou aqui, algum tempo atrás, o crescimento do número de missões espaciais a partir da entrada da iniciativa privada. Isso teve como efeito o quê? A gente abriu o leque de possibilidades. Passamos a olhar para temas e assuntos dentro da infinita possibilidade que o espaço oferece que não eram observados, justamente porque não havia braço, não havia capacidade para que os governos pudessem, sozinhos, fazer isso.

Então, primeiro que a gente tem hoje, a partir dessa cooperação, dessa colaboração, um leque muito maior de temas dentro do universo da pesquisa para serem observados. A gente fala sobre buracos negros, sobre descoberta de novos planetas, sobre a compreensão maior do que se tem em alguns materiais que são explorados pelas sondas que estão no espaço e têm coletado cada vez mais informações, a capacidade com alguns equipamentos que vêm sendo embarcados nessas missões para conseguir fazer a diferenciação entre minerais e conseguir entender do que que é feito esse universo lá fora e como a gente pode se beneficiar disso tudo.

O grande ponto sobre as tecnologias quânticas é que, a partir desse leque cada vez mais amplo de possibilidades, temos também mais informações e uma complexidade maior de recursos à disposição que precisam ser processados, investigados, avaliados, dentro de uma condição em que se tem escala. Não há a possibilidade de aguardar muito mais tempo e é justamente sobre isso que a tecnologia quântica permite atuar. Ela garante a possibilidade de ter esses vários elementos, esses vários cenários colocados lado a lado, e avaliados em uma condição de velocidade e de precisão muito maiores.

O grande ponto sobre esses investimentos, e aqui vale dizer que talvez Estados Unidos e Reino Unido se coloquem como os dois primeiros países da lista, porque estão olhando isso adiante de outras potências, inclusive individualmente e conjuntamente, promovendo esses esforços, porque eles conseguem entender o valor dessas missões. Eu insisto, da cooperação com a iniciativa privada — são várias empresas, desde startups que estão colocando cada vez mais possibilidades de satélites, olhando aqui para dentro, como empresas olhando para fora, desenvolvendo ferramentas, equipamentos para essas missões —, a pesquisa para a coleta de dados e de informações. Então esses dois países estão olhando para isso.

E quando a gente adiciona a tecnologia quântica, percebemos que os investimentos deles são bem volumosos, porque eles entenderam a necessidade, a urgência de estabelecer escala para algo que antes era feito de maneira quase artesanal, vamos colocar dessa maneira.

Quanto tempo demora para uma missão ser planejada, colocada em prática? Às vezes falamos em 2028, daqui 4 anos, para lançar algo, estamos pensando numa missão 2030. A gente sempre faz voos muito longos, são planejamentos, muito complexos para serem feitos e a ideia é que tudo isso passe a ser feito de uma maneira mais veloz, mais ágil e com nível de precisão cada vez maior em virtude das possibilidades que a tecnologia quântica oferece.

Vale um adendo aqui, André, sobre as condições em que a gente consegue operar no espaço e que, de novo, entra esse elemento de um leque cada vez maior. À medida que eu tenho mais gente trabalhando e criando nichos e especializando essas missões (ainda que menores do que essas grandes missões que estamos acostumados a ver), essas pequenas incursões somadas oferecem perspectivas muito específicas, ou seja, são tiros curtos com objetivos muito claros, com um endereçamento do que se quer — busca o dado, esse dado é trazido e analisado — tudo isso entra num processo mais ágil, a gente consegue criar conjuntos de informações mais complexos, porque eu tenho, primeiro, mais gente trabalhando e mais capacidade para estabelecer essa análise a partir da computação quântica.

É evidente que não é um investimento barato e isso é importante dizer. Nós estamos falando de muitos milhões, muitos bilhões de dólares de investimento. Não é um esforço que os governos vão fazer sozinhos, está claro que daqui para frente cada vez mais isso vai acontecer em consórcio.

E há um outro ponto que precisa ser colocado do ponto de vista geopolítico. Há um interesse dessas potências para se destacarem, para que cheguem na frente, porque há uma competição. A indústria espacial chinesa vem trabalhando em uma frente importante para buscar também cada vez mais informações, se sobressair e, enquanto isso, Estados Unidos e Reino Unido, aliados, trabalhando para tentar se manter na dianteira dessa questão. É um mercado altamente disputado e altamente concorrido.

[ANDRÉ MICELI]

Rafael, a gente vai precisar lidar com um ponto que já acontece em outras questões das áreas de tecnologia. À medida que avança a tecnologia, que avançam as aplicações da tecnologia também, a gente vê sempre duas discussões: o impacto negativo no mercado de trabalho e a carência de profissionais. E aí eu quero te perguntar, Rafa, como a educação nesses campos vai precisar evoluir para que a gente atenda as demandas de profissionais qualificados em Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática, dessas pessoas que vão ser necessárias para a gente trabalhar num contexto que é ainda mais sofisticado do que o que a gente tem hoje em dia por aqui e já encontra problemas?

[RAFAEL COIMBRA]

André, trabalhando com educação de base, desde a formação das áreas mais voltadas para tecnologias. Mas eu acho que, além dessa educação, insisto nesse olhar mais macro, nesse olhar de longo prazo. Num projeto de nação, por exemplo, que entende que haverá necessidade de se produzir tecnologia, mas de também se produzir pessoas que saibam operar essas tecnologias.

Para dar números aqui, o Aros estava falando de milhões, bilhões. O Programa Nacional de Tecnologia Quântica do Reino Unido tem 1 bilhão de libras — fazendo uma conta redonda, mais ou menos 6 bilhões de reais — e é uma parceria de governo, academia e indústria. Então, são 6 bilhões que foram colocados nesse projeto que começou em 2014.

Veja, estamos aqui olhando para o futuro, essas pessoas estavam olhando para o futuro 10 anos atrás, formaram 470 doutores, atraíram 120 parceiros industriais e apoiaram 50 startups quânticas. Estou falando só de universo quântico.

Então, veja a quantidade de oportunidades, mas veja também como essa fomentação de um ecossistema de inovação, incorporando todos esses parceiros (que lembra muito as pontas do programa do MIT, o MIT REAP, que trabalha com esses múltiplos atores para colocar uma injeção de conhecimento, de dinheiro e este olhar de projetos de longo prazo em discussão).

A gente precisa fazer com que a criançada comece a olhar para a ciência como uma coisa interessante, para a tecnologia, e que essa evolução se dê até o nível, como eu citei, de doutores. A gente vai precisar de gente, como você falou, André, com uma especialização muito maior do que a que temos hoje em dia, porque estamos falando das fronteiras da ciência e da tecnologia. Estamos falando de computador quântico como se fosse uma coisa mais ou menos tranquila de se lidar, mas a gente sabe que não, que o universo quântico ainda tem seus múltiplos mistérios, ainda não é uma tecnologia 100% dominada. A gente precisa de muita ciência de base, físicos quânticos que entendam aquilo, e precisamos pensar, em quando a gente olha para startups, pessoas que vão ter ideias mais pragmáticas de trazer elementos que solucionem esses projetos.

E eu não estou nem colocando aqui a conjunção de outras tecnologias como, por exemplo, a Inteligência Artificial. Imagina quando a gente conectar IA e computação quântica. Vamos precisar também de profissionais e pessoas que tenham um olhar multidisciplinar. Isso é uma coisa também importante quando olhamos para o espaço. Sobretudo, vemos que há um pouco de robótica, um pouco de física (um pouco não, tem muito) de cada coisa. Vamos precisar também de profissionais e empresas que consigam fazer esse olhar mais transversal, de incluir habilidades, tecnologias, conhecimentos diferentes que, combinados, possam gerar soluções para esse novo mundo que estamos construindo.

É importante dizer isso: não estamos falando de algo que está dominado, já consolidado e que estão tentando melhorar. Estamos falando da criação de um novo espaço (sem trocadilho). São coisas que ainda não existem e isso é sensacional. Porque imagine um país que está entrando no mercado com coisas que não existem, com soluções que vão ser criadas, que podem ser desde essas mais voltadas para os negócios mesmo, para ganhar dinheiro, como para solucionar problemas. Quando a gente está falando de tecnologia quântica aqui, o que existe de gente tentando pensar em simulações de clima para resolver, entender melhor como o planeta funciona, para, obviamente, gerar uma solução para fazer, por exemplo, transição energética, a gente está falando de um novo mundo a ser explorado e isso traz muitas oportunidades. Porém, tem esse desafio, temos que formar pessoas com esse olhar mais futurista do que o que a gente forma hoje em dia.

[ANDRÉ MICELI]

Carlos, também um assunto que existe só no nosso planeta, mas em breve vai ganhar o espaço. A gente vai precisar lidar com desafios éticos, questões práticas da nossa vida. Como você enxerga isso? Quais são as principais questões que você enxerga agora nesse curto prazo, para a gente conseguir avançar na área da exploração espacial de uma maneira mais estruturada, organizada e ética do que as coisas acontecem por aqui?

[CARLOS AROS]

Acho que o primeiro ponto é o acesso. A gente tem o potencial de desenvolver, por meio desse ecossistema que o Rafa descreve, oportunidades para aqueles que já operam dentro das interfaces que compõem esse ecossistema, mas também para incluir mais pessoas que eventualmente estejam fora, que estejam à margem, para que elas passem a fazer parte, de alguma maneira, desse universo. A gente só é capaz de fazer isso se focarmos no desenvolvimento de conhecimento, se rompermos algumas barreiras. E estamos falando aqui, assim como quando falamos sobre outras tecnologias que propõem mudanças significativas na dinâmica das nossas vidas, sobre a educação como um elemento básico, mas também como uma ponte para conectar essas pessoas que estão excluídas, que estão à margem.

Então existe um benefício, o Rafa citou logo no começo, que é justamente da exploração espacial, no caso, a possibilidade que se oferece para conectar pessoas que estão distantes e fazer com que essas pessoas elas estejam bancarizadas, esse é um aspecto. Mas a gente precisa que, a partir do momento em que essas pessoas têm acesso indireto a essas tecnologias, passem a dominá-las e que as próximas gerações comecem a ser ensinadas e sejam percebidas dentro desse contexto, dentro desse universo. Esse é um primeiro desafio.

Segundo, assim como quando a gente fala sobre Inteligência Artificial, no universo da computação quântica, estamos, necessariamente, definindo algumas novas características, impondo e exigindo conhecimentos que precisam ser elevados a um número maior de pessoas, para que essas pessoas também possam ter como aproveitar dessas oportunidades e que elas não fiquem excluídas, que elas não sejam vítimas dessa construção. E que esses ecossistemas novos que vão surgir a partir do desenvolvimento dessas tecnologias não sejam não canibalizem os modelos econômicos que existem, que eles sejam indutores de uma transformação para que as coisas caminhem num contexto saudável. O grande risco para essas economias é que aqueles que já estão mais distantes passem a ficar ainda mais distantes a partir desse desenvolvimento novo, com base em conhecimentos que estão restritos apenas a alguns.

E tem um outro ponto que são ferramentas que consomem cada vez mais informações, têm uma capacidade de processamento gigantesco, por isso dão conta de um universo que não é imaginado por muitos. A partir disso, a gente tem como exigência mais e mais informações, as pessoas se tornam mais vulneráveis. É preciso, portanto, garantir, por meio de alguns instrumentos de transparência, mais governança, que tenhamos proteção aos indivíduos, uma garantia de que os limites vão ser respeitados para que as pessoas não sejam reféns desse ecossistema que se desenvolve com base nas informações dessas pessoas.

E quando falamos em pesquisa espacial, estamos falando sobre algo que necessariamente está longe, literalmente longe das pessoas e que, portanto, elas ignoram, mas que tem um efeito muito prático, muito objetivo sobre as vidas de todas elas. E é justamente essa conexão que precisa ser feita. A academia, a escola, é o melhor caminho para que as pessoas comecem a perceber que esse desenvolvimento está conectado ao desenvolvimento social, movimento da vida delas como um todo.

O grande cuidado é que, de novo, as pessoas façam parte desse processo de transformação, que elas não sejam esquecidas. O que estamos vendo com a Inteligência Artificial, por exemplo, é um processo bastante ruidoso, mas uma preocupação muito grande do regulador, de alguns reguladores, em garantir que os indivíduos não sejam esquecidos, que eles não estejam perdidos no meio desse processo em que só se olha a ferramenta. E com a computação quântica, acho que esse é o mesmo caminho. Não sei se, com a necessidade de regular, mas com a necessidade de criar instrumentos para que as pessoas sejam percebidas como parte do processo e não como mais um recurso para fazer com que isso se viabilize. Acho que a preocupação social, nesse caso, é muito importante.

[ANDRÉ MICELI]

É isso. Gostei dos trocadilhos de vocês. Vocês estão engraçadinhos hoje.

[TRILHA: O QUE MAIS VOCÊ PRECISA SABER]

[ANDRÉ MICELI]

Agora é hora de virar a chave. Quero perguntar para o Rafael Coimbra. Rafael, no que você vai ficar de olho esta semana?

[RAFAEL COIMBRA]

André, estou de olho nos desdobramentos da decretação da prisão do Sam Bankman-Fried. Ele foi condenado a 25 anos de prisão por fraude nos Estados Unidos. Para lembrar quem é Bankman-Fried, era o CEO da FTX, uma das maiores corretoras de criptoativos do mundo. Ele é acusado de fraude, foi uma acusação fortíssima que o descreve como um ator, um ladrão. A justiça não teve meias palavras para descrever a ação dele em fraudes envolvendo criptoativos.

Fato é que houve a falência, ele deu um golpe, é o que a justiça está dizendo, algo em torno de 10 a 11 bilhões de dólares, causou um prejuízo muito grande para quem apostava as fichas na FTX. Agora ele foi condenado e alguns acham que a condenação foi leve, enquanto outros a consideram exagerada, uma vez que ele tem 32 anos. Vai passar boa parte de sua vida na prisão, mesmo com relaxamento, dizem que ele vai pegar 20 anos, pelo menos.

Fica o recado. A gente passou por uma fase muito forte de investimento, de uma forma muito desregulada, no mercado de criptoativos. Isso vale para o mundo inteiro, inclusive para o Brasil. Aqui tivemos, em 2022, a aprovação do nosso Marco Legal das Criptomoedas, que entrou em vigor em 2023, no ano passado. E há a coordenação da CVM e do Banco Central, também estabelecendo regras, punições rigorosas. E eu acho que nesses últimos dois anos, depois dessa crise da FTX, o mundo entendeu que os criptoativos vieram para ficar. Havia quem achasse que não, que isso era uma onda que ia passar. Não está passando. Inclusive, estamos vivendo um novo ciclo de alta do Bitcoin, por exemplo, e era preciso de alguma forma colocar as coisas nos eixos.

Então, houve, por parte dos reguladores, uma ação muito forte. Eu acho que o ambiente hoje é muito mais benéfico e muito mais saudável, e acho que houve uma conscientização por parte das pessoas que compram criptoativos de não se meterem tanto em furadas. De vez em quando, vemos golpes rolando por aqui, ali, mas acho que já melhorou o ambiente. As pessoas entendem que precisam procurar parceiros sérios, que se forem investir via uma corretora, que seja uma corretora de confiança. Pesquise muito, informe-se, porque existem ainda riscos, a gente sabe, para tudo. Mas já melhorou muito, e eu acho que vai ficar como uma lição para quem está pensando em dar golpe, seja lá fora ou aqui, que pense duas, três, muitas vezes, porque agora o buraco é mais embaixo.

[ANDRÉ MICELI]

Carlos Aros, e você?

[CARLOS AROS]

Eu estou preocupado, André Miceli, com o novo anúncio da OpenAI. Eles apresentaram uma ferramenta chamada Voice Engine, que basicamente clona a voz das pessoas com base em 15 segundos de amostra. Não está disponível ainda para todo mundo. Segundo a OpenAI, ela será mantida sob um controle bastante restrito e com um processo rigoroso de segurança para impedir que as pessoas falsifiquem áudios com o objetivo de enganar as outras. No comunicado, eles dizem que sabem que gerar uma fala semelhante à voz de alguém apresenta riscos severos e que isso se acentua em um ano de eleição.

Bom, isso já era sabido. E agora, o que existe do lado da OpenAI é, segundo eles, um processo de estreitamento de conversas com empresas, com representantes de diversos setores, para construir uma ferramenta que não seja nociva. Eu acho complexo, sobretudo porque não é a primeira ferramenta do gênero. A gente sabe do que a OpenAI é capaz de fazer, mas já vimos o que ferramentas como essa, talvez mais simples até do que essa (presumindo que o que a Open a vai colocar vai construir vozes duplicadas, muito semelhantes às vezes reais), a gente já viu os perigos disso tudo. Em um ano em que a gente tem eleições em inúmeros países rolando, sabemos que esse período tende a ser um período bastante grande e que todos os relatórios de cibersegurança colocam a desinformação e as notícias falsas como itens prioritários numa lista de riscos a serem observados, uma ferramenta como essa, com a mídia que a OpenAI tem, com o alcance que isso eventualmente pode alcançar, faz com que nós fiquemos muito preocupados com os efeitos disso tudo.

É mais um tema para ser enfrentado, mais um assunto para ser observado, mais uma dimensão dessa história complexa que envolve Inteligência Artificial para a gente olhar. E eu, infelizmente, não acho que a humanidade esteja preparada para esse tipo de coisa, porque os efeitos nocivos podem se sobrepor às vantagens que uma ferramenta como essa pode trazer.

[ANDRÉ MICELI]

Bom, meus amigos, está na hora. Mas antes de ir, eu quero lembrar que este podcast é um oferecimento do SAS. Rafael Coimbra, até semana que vem, abraço!

[RAFAEL COIMBRA]

Um abraço André, Aros e todos que nos ouvem! Faço o convite para que vocês nos acompanhem nas nossas redes sociais. Tem muita informação o dia inteiro, toda hora, sobre o que está acontecendo de mais importante no mundo da tecnologia. Até a semana que vem!

[ANDRÉ MICELI]

Carlos Aros, até a semana que vem!

[CARLOS AROS]

Até a semana que vem, André Miceli, Rafael Coimbra, você que nos acompanha (com o registro de que essas são as nossas vozes mesmo, elas não foram criadas por Inteligência Artificial) (risos). Até a semana que vem, tchau, tchau!

[ANDRÉ MICELI]

É isso, semana que vem tem mais podcast da MIT Technology Review Brasil, com vozes de verdade, para falarmos sobre tecnologia, negócios e sociedade. Um grande abraço para você que nos acompanha. Tchau, tchau!

[TRILHA SONORA]

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