O Brasil entendeu a importância da colaboração entre empresas e startups
Inovação

O Brasil entendeu a importância da colaboração entre empresas e startups

As empresas menores apresentam mais agilidade e ousadia, e podem ensinar às grandes corporações algumas lições de inovação que podem mudar indústrias inteiras.

Em um mundo cada vez mais disruptivo e que está sempre em busca de inovações, é possível notar um aumento no número de empresas que tenham sinergia e que colaboram entre si, uma troca que soma e enriquece o mercado como um todo. Esse é um caminho sem volta, em que é possível notar alianças estratégicas que nasceram para fomentar e acelerar os negócios. Em outros países, a colaboração entre empresas já é cultural e acontece de forma natural.

Por aqui, essa proposta ainda é tímida, mas já é possível presenciar uma mudança de mindset exatamente por conta dos bons exemplos vindos de fora. O Brasil finalmente percebeu que o elo entre duas empresas com o objetivo de transformar e acompanhar as evoluções do mercado é fundamental e só traz benefícios. Com a pandemia, o mercado precisou correr contra o tempo para oferecer as melhores soluções e experiências aos seus clientes, e a colaboração entre empresas e startups tornou-se imprescindível para o desenvolvimento de novas ideias e soluções.

Dados da Pesquisa de Inovação (Pintec), levantamento realizado a cada três anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que compreende o movimento da inovação no Brasil, mostram que, entre 2015 e 2017, 33,6% de 116.962 empresas brasileiras com dez ou mais trabalhadores inovaram em algum produto ou processo. De acordo com o IBGE, “uma empresa é considerada inovadora quando introduz no mercado um produto ou implementa um processo novo ou substancialmente aprimorado”.

Mas os números do Distrito, hub de inovação para startups, apontam que no cenário brasileiro os valores e números de deals ainda são tímidos se comparados com países como os Estados Unidos. Ao longo de 20 anos, foram contabilizadas 162 rodadas de investimento envolvendo Corporate Venture Capitals (CVCs) no país — 212 contando as rodadas sem valores revelados —, totalizando US$ 1,3 bilhão investidos. Entre janeiro e setembro de 2021, o investimento em startups no Brasil chegou a US$ 662,1 milhões, o maior volume desde 2000, dados que apontam que essas colaborações estão crescendo em importância à medida que empresas de todos os tamanhos tentam responder rapidamente às mudanças no mercado.

Em um panorama mundial, o Brasil ocupa a 62ª posição entre as 131 economias listadas no Índice Global de Inovação 2020, e as CVCs podem ser um bom caminho para incentivar ainda mais o fomento e a adoção de inovações. Infelizmente, ainda existe um desafio em levar a ciência ao mercado, isto é, pulverizar todo conhecimento que vem das universidades e instituições de pesquisa por meio das startups. No exterior, a parceria entre universidades e empresas facilitam essa disseminação, algo que ainda ocorre de forma discreta por aqui.

Mercado em ebulição

Embora a pandemia tenha diminuído ligeiramente a colaboração, é perceptível o grande apetite nesse mercado, seguido da necessidade de inovar e potencializar as chances de manter-se competitivo frente a outras empresas.

Atualmente, o ecossistema de inovação brasileiro se apresenta mais maduro, vivendo o que boa parte da indústria norte-americana e europeia já conhecem há anos, em um período que os founders second time já tiveram experiências, receberam aportes e venderam empresas.

Há um crescente número de investidores-anjo, aceleradores e iniciativas de CVC disponíveis, e as companhias compreenderam que essa é uma pauta que não deve ser adiada e precisa ser vista com olhares mais atentos. Grande parte das empresas faz investimentos em CVC por razões estratégicas, com a finalidade de agregar vantagens competitivas por meio da inovação, já que as startups, com os aportes, aceleram seu portfólio tecnológico e favorecem os projetos que têm em conjunto com as investidoras. Além disso, também apoiam o desenvolvimento do ecossistema, garantem o crescimento dos seus pequenos negócios e trazem para as grandes companhias uma cultura inovadora, que impacta positivamente a imagem da organização.

Com atraso, o Brasil entendeu que as parcerias corporativas com startups fazem sentido e é notável que os modelos estão inovando e se transformando. As grandes empresas passaram a enxergar nas menores uma forma de conseguir complementaridade em tecnologias, além de encontrarem maior velocidade, agilidade e flexibilidade, adjetivos que estariam fora do alcance se precisassem iniciar esse tipo de inovação do zero.

Empresas inovadoras

A Vivo tem o seu braço de inovação, a Wayra, um dos primeiros hubs de inovação aberta do País. Do ramo do aço, a ArcelorMittal, lançou em maio deste ano o Açolab Ventures. Outro exemplo que pode ser citado é o da Sinqia, que em 2021 anunciou o lançamento do Torq Ventures, seu hub de inovação e investimentos. Fabricantes automotivas, entre elas a Toyota, apostam nas tecnologias colaborativas de startups NTT para inserir conectividade em suas frotas. Dados da consultoria CB Insights mostram que, em 2017, os investimentos em startups de carros conectados ultrapassaram os US$ 500 milhões em financiamento anual.

As colaborações são tão necessárias que podem transformar o mundo e mudar o rumo da história. Em 1906, a Haloid incorporou em sua criação a xerografia, uma invenção que já existia há 10 anos. O projeto se tornou a primeira fotocopiadora, a XeroX A, e, com o sucesso dessa nova tecnologia, a empresa passou a se chamar Xerox, em 1961.

A empresa também fez parte de outro produto que revolucionou o cotidiano de todo o mundo. A partir do Xerox Alto, o centro de pesquisas Xerox em Palo Alto, criou um dispositivo que apresenta um design moderno, uma interface convidativa, ícones e um mouse. Após experiências em máquinas experimentais, esse produto tornou-se lento e oneroso para a época. Anos depois, Steve Jobs conheceu esse sistema e sugeriu o aperfeiçoamento dele. Após melhorias, em 1984, os engenheiros da Apple reduziram os custos e apresentaram ao mercado o Macintosh, o primeiro computador pessoal com uma interface gráfica acessível e que transformou a Apple na gigante que é hoje.

Foco no desenvolvimento

Mesmo que a busca por parceiros inovadores possa parecer fácil, a decisão deve ser tomada de forma totalmente estratégica. As companhias precisam entender quais são as suas dores e quais os gaps precisam ser resolvidos a partir dessa colaboração. Sim, é desafiador, mas há formas mais fáceis de se desvendar essa resposta, como associar-se às aceleradoras, aos fundos e, também, conhecer o universo das startups. Não há como terceirizar o desafio, por isso, mergulhar nesse ecossistema é fundamental para encontrar o parceiro que apresenta total sinergia ao negócio.

Para poder inovar, é preciso transformar processos de forma inusitada em algo que seja potencialmente capaz de gerar mais valor com menores investimentos. Só é possível caracterizar uma coisa como algo “inovador” se ela é capaz de gerar valor que atenda a real necessidade de uma classe de pessoas ou mesmo de um segmento. A fim de que essa parceria dê certo, os empresários precisam ser flexíveis e estar dispostos a implantar inovação em sua companhia. Por outro lado, os empreendedores devem incorporar mais ações corporativas no dia a dia de suas startups para que o crescimento ocorra.

Essa é uma agenda prioritária para a revolução dos negócios, pois contar com a inovação advinda das startups traz um poder transformacional enorme. As empresas brasileiras estão compreendendo que, com tantas opções disponíveis, trabalhar sozinha passou a ser uma escolha onerosa e burocrática, além de demorada. Em um mundo dinâmico para os negócios, esse exemplo precisa ser repensado, já que as startups têm capacidade de acelerar modelos e tecnologias.

As empresas menores apresentam mais agilidade e ousadia, e podem ensinar às grandes corporações algumas lições de inovação que podem mudar indústrias inteiras. Isso significa que a inovação precisa estar na mentalidade do líder e no cotidiano de toda empresa, seja ela de qual tamanho for.

Hoje as grandes companhias devem estar de olho não apenas nas inovações tecnológicas. Acima dos bytes, estão as experiências e as pessoas, e um outro foco importante passou a ser a experiência dos serviços. A pergunta feita deverá ser a seguinte: como é possível entregar valor para essa nova cultura? A velocidade do comportamento humano mudou muito em relação à tecnologia e isso exige uma evolução. Todo o mundo está a um passo de ter mais maturidade, de realmente conectar empresas com o futuro.


Este artigo foi produzido por Leo Monte, Chief Innovation & Marketing Officer na Sinqia.

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