NRF 2022: tendências para o setor varejista
Negócios e economia

NRF 2022: tendências para o setor varejista

As tecnologias que estão revolucionando o varejo e como o consumidor deve ser priorizado ao longo dessa transformação.

O varejo tem sofrido grandes transformações e enfrentado muitos desafios por diversos fatores, como o aumento do dólar, inflação, estoque, desemprego, entre outros. Mesmo assim, o cenário é positivo: para 2022, a expectativa é que o volume de vendas no varejo brasileiro aumente em 3,8%, de acordo com o relatório desenvolvido pela EMIS, plataforma do Grupo ISI Emerging Markets. Isso é mérito, em sua maior parte, da digitalização do setor e da aplicação do conceito de Transformação Digital.

Por este motivo que esses assuntos foram muito discutidos durante a NRF 2022 Retail´s Big Show, um dos principais eventos do setor varejista, que aconteceu entre 17 e 21 de janeiro em Nova York. O evento reuniu mais de 15 mil varejistas, parceiros, fornecedores e entusiastas da área com o objetivo de discutir tendências, novas tecnologias, ideias disruptivas, evolução dos negócios digitais e o futuro deste mercado. Dentre elas, destaca-se ESG, metaverso e experiência de compra.

Durante este período, os participantes tiveram a oportunidade de acessar informações muito importantes e privilegiadas a respeito do que esperar para o setor nos próximos anos. Mas, independentemente do que venha surgir, as tendências estarão pautadas nos hábitos de consumo e na jornada dos consumidores, colocando sempre os clientes no centro do negócio.

Porém, durante a ocasião, surgiu um novo conceito — o “metacommerce”. Proveniente do metaverso, é a criação de ambientes lúdicos e virtuais que permitem a interação e uma experiência diferenciada de compra, que promete revolucionar o e-commerce.

De acordo com o relatório do Morgan Stanley, empresa global de serviços financeiros, as vendas em plataforma 3D podem acrescentar em 10% as receitas nas marcas de luxo até 2030. Já o mercado de metaverso deve crescer de forma acelerada nos próximos anos, conforme comentei em meu último artigo.

Uma pesquisa feita pela Strategy Analytics aponta que o metaverso deve atingir US$ 41,62 bilhões em 2026. Outro estudo da Bloomberg Intelligence aponta que o uso dessa tecnologia pode gerar e atingir a marca de US$ 800 bilhões, ou seja, cerca de R$ 4,5 trilhões em 2024. Isso porque, com o uso de Realidade Aumentada (RA) e de Realidade Virtual (RV), os clientes poderão experimentar novos produtos das suas próprias casas, sem precisar se deslocar até a loja física.

Recentemente, a Nike criou ‘Nikeland’ que permite com que jogadores possam vestir seus avatares com produtos da Nike e com isso interagir em jogos esportivos como atletismo, parkour e natação. Em um espaço 3D imersivo, foram construídos edifícios e os campos em sua comunidade foram inspirados na sede da Nikeland para que as pessoas pudessem competir em minijogos. Na prática, os jogadores utilizam o acelerômetro afim de registrar seus movimentos físicos e, assim, controlar o avatar de forma online. Desta forma, os consumidores poderão, por meio da RA, entrar nos andares reservados para as coleções infantis, graças ao filtro Snapchat. Isso proporcionará uma vivência diferenciada aos consumidores.

Outra tendência que vem sendo muito debatida e reforçada no evento foi a agenda de ESG e diversidade. Atualmente, as novas gerações não estão mais tolerando empresas que não cuidam de sua reputação. Isso vale para diferentes questões, como mostrar real preocupação com o aquecimento global, igualdade de gênero e o real aumento de vagas oferecidas para pessoas com deficiência. Desta forma, as marcas têm apostado em uma comunicação mais diversa e inclusiva para se aproximar do seu público-alvo. Outro ponto importante é a preocupação com o consumo consciente: gigantes do varejo já se preocupam — e têm planos concretos — com a redução de embalagens e produção de produtos mais sustentáveis. É necessário ficar atento ao ciclo de vida dos itens comercializados, incentivando assim o consumo cada vez mais consciente. Isso deve ser obrigatório dentro das empresas a partir de agora.

Um tema também muito abordado foi o home office, o qual muitos estão denominando como ‘Work From Home’. Na visão da maioria dos líderes, este é um caminho sem volta. Diante deste cenário, é inevitável que as relações de trabalho também sofram mudanças. Nesse caso, esses profissionais precisam criar mecanismos e estratégias para reter e desenvolver novos talentos nesse modelo de trabalho.

É o que mostra o estudo feito pela Bain & Company no Brasil com mais de 2 mil pessoas, indicando que 30% dos brasileiros querem continuar trabalhando de forma integral no sistema home office. Já 33% gostariam de ir de duas a três vezes na semana no escritório. E as três prioridades, para 23% dos entrevistados, são bons salários e benefícios; oportunidades de crescimento e aprendizado (17%); e flexibilidade de horas trabalhadas (9%).

Esses números provam que cada vez mais os líderes devem ter um olhar mais atento para os seus times. Isso porque os gestores devem ajudar no desenvolvimento das atividades de suas equipes, exercendo o papel de mentores e não de pessoas autoritárias. Assim, eles devem ser cada vez mais humanizados e flexíveis às rotinas e processos internos. Isso porque a concorrência entre as empresas está cada vez maior, e vão sair na frente aquelas que oferecerem, além de salários atrativos, formas de trabalho mais leves e personalizadas de acordo com o perfil de cada colaborador. Caso contrário, há grandes chances de as companhias perderem funcionários qualificados e de alta performance. Esses insights mostram que o papel do líder mudou drasticamente depois da pandemia de Covid-19 e que o mercado como um todo precisa acompanhar essas transformações.

Ainda seguindo essa tendência, podemos destacar também que esse conceito vai mudar a forma como as marcas vão se relacionar com os consumidores. Pois, a partir do momento que as pessoas começarem a trabalhar de casa, obviamente elas passarão a consumir mais dos estabelecimentos de bairro, fazendo com que as lojas repensem a estratégia de abrir pontos em locais mais caros e valorizados. Nesse caso, ferramentas como as redes sociais e o WhatsApp terão um papel fundamental para atrair novos clientes e fidelizar aqueles que já conhecem a marca. Isso porque, nesse caso, a super personalização funcionará de maneira ainda mais assertiva.

Por fim, outro assunto muito comentado durante a NRF foi a respeito dos fretes, a cadeia de suprimentos e abastecimento do varejo. Isso porque a pandemia trouxe muitos problemas de abastecimento de itens e matérias primas para a indústria, o que acarretou o aumento dos preços de produção e entrega e, como consequência final, a alta dos processos dos produtos. Mas para minimizar esses prejuízos, o setor varejista tem apostado na Transformação Digital para acelerar processos e agir de forma mais assertiva no planejamento de demandas, produção, logística, entrega e experiência ao consumidor.

Portanto, o uso de novas tecnologias é fundamental para trazer mais agilidade em todas as atividades do setor varejista. Como exemplo, podemos destacar Inteligência Artificial e Machine Learning, que podem ser utilizados para dar mais previsibilidade e precisão no controle dos estoques. Já a aplicação do IoT (Internet das Coisas) pode ajudar a acelerar a movimentação dos itens comercializados durante o processo logístico. Outra novidade no mercado varejista é o uso dos robôs nos centros de distribuição, trazendo inúmeros benefícios como o aumento da produtividade e da acurácia na operação, além de trazer mais agilidade na locomoção e movimentação dos produtos comercializados.

Um estudo feito pela Boston Consulting Group (BCG), apontou que a utilização da robótica junto com outras soluções inovadoras, aprimoramentos de processos e mudanças no layout estrutural pode causar uma economia de até 40% nos centros de distribuição.

Diante desses insights citados acima, podemos concluir que o setor varejista tem passado por muitas transformações, principalmente pela aplicação de novas tecnologias e inovações totalmente disruptivas. Mas, diante de tantas novidades que estão surgindo, os gestores precisam ter – acima de tudo – um planejamento bem definido, com todas as estratégias desenhadas, pois não adianta nada aplicar todas as soluções existentes ao mesmo tempo se as empresas não aproveitarem de maneira eficiente e assertiva. Mas uma coisa que as empresas precisam se preocupar e ter em mente é que a experiência do consumidor e a sua jornada devem se manter sempre em primeiro lugar.

Ou seja, você que é gestor e líder, é de suma importância criar mecanismos para conhecer os hábitos de compra do cliente e entender qual o melhor momento de acioná-lo e o que realmente ele procura na sua loja. Fique atento às novidades do setor e descubra a melhor maneira de aplicá-las. Pense nisso!


Análise do mercado

O Gustavo Caetano, autor do artigo, foi bastante assertivo ao apontar as tecnologias que estão revolucionando o varejo, sem perder de vista a posição central que o consumidor deve ocupar na estratégia das marcas. No fim do dia, é mais sobre como os recursos tecnológicos podem ajudar o varejo a desenvolver experiências de compra melhores e mais relevantes para os clientes do que a inovação pela inovação. Já existem empresas brasileiras testando o metacommerce, mas ainda há muitas companhias que não estão preparadas para lidar com o alto volume de dados que essa imersão digital via metaverso pode gerar e, assim, contribuir para termos o mais alto nível de personalização em escala.” — Núbia Mota, Head de Growth Marketing Adobe Experience Cloud para América Latina.


Este artigo foi produzido por Gustavo Caetano, CEO da Sambatech e Samba Digital, e colunista da MIT Technology Review Brasil.

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