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Até agora, Ethereum é o protocolo blockchain dominante no ecossistema cripto (que engloba DeFi, DAOs, NFTs, games, dentre outros), pois hospeda o maior número de projetos.
Se considerarmos o número mensal de novos dApps (aplicativos descentralizados) por blockchain, a dominância do Ethereum é evidente. Veja abaixo:
(fonte: stateofdapps)
Agora, no mercado NFT, apesar do Ethereum ainda ocupar a primeira posição, com mais de 50 projetos em execução; já é possível perceber um crescimento, ainda que tímido, de outras blockchains como o WAX, BSC, Polygon, Flow, Solana e Algorand.
A plataforma WAX é um fork da blockchain EOS que conta, atualmente, com mais de 35 projetos NFT.
Já o BSC (Binance Smart Chain) é uma blockchain de segunda geração que oferece suporte a contratos inteligentes escritos em outras blockchains compatíveis com Ethereum Virtual Machine (EVM), programa que executa contratos inteligentes em um ambiente de área restrita. Veja abaixo um EVM ilustrado por Takenoby T:
Polygon, antigo Matic Network, é uma solução de Layer 2 criada para escalonamento e desenvolvimento do Ethereum. É um protocolo de segunda camada e uma estrutura para a construção e conexão de redes blockchain compatíveis com o Ethereum. Agregando soluções escaláveis que suportam um ecossistema de múltiplas redes Ethereum.
Já o Flow é uma rede blockchain que usa Proof-of-Stake (PoS) como mecanismo de consenso, possui foco na escalabilidade, velocidade e rendimento.
Aqui, vale a pena abrir um parênteses para explicar que o Proof-of-Stake ajuda na escalabilidade de forma indireta, porque “divide a responsabilidade” de validação das transações na rede, para que cada node não precise processar todas as transações que ocorrem no blockchain. Outra razão pela qual o proof-of-stake ajuda indiretamente a escalabilidade no blockchain é porque os validadores ganham apenas taxas de transação; diferentemente da prova-de-trabalho que emite novos tokens como recompensa aos mineradores que validam os blocos.
O Cardano também é uma plataforma de proof-of-stake: a primeira a ser fundada em pesquisa revisada por pares e desenvolvida através de métodos baseados em provas.
Algorand é um blockchain de terceira geração que também usa PoS como mecanismo de consenso e tem surpreendido com a rápida expansão de seu ecossistema de aplicações, como podemos ver abaixo:
O que tem impulsionado o crescimento dos atuais rivais do Ethereum?
A busca do mercado por outras blockchains se deu pela insatisfação provocada pelas taxas altíssimas e os tempos de transação muito lentos da Blockchain Ethereum.
Como o Ethereum prioriza a descentralização e a segurança, às custas da escalabilidade, tem períodos de congestionamento da rede e taxas de transação que ocasionalmente são maiores do que o valor do ativo que está sendo enviado.
Daí porque, os principais rivais do Ethereum, como Binance BNB, Cardano, Solana, dentre outros, ganharam popularidade por suas altas taxas de escalabilidade e grande velocidade de transação, atraindo bilhões de dólares nos últimos dois anos.
A blockchain Solana, por exemplo, consideradas por muitos como “a próxima VISA dos criptoativos”, a tornou-se popular na indústria cripto pela sua velocidade, custo e escalabilidade.
Diferentemente da versão atual do Ethereum que, assim como Bitcoin, “ainda” usa o mecanismo de consenso da “prova de trabalho” (PoW) para validar transações, o que exige muita energia e força computacional, a Solana introduziu o algoritmo “Proof-of-History”, capaz de criar um registro histórico que prova que um evento ocorreu em um dado momento específico no tempo, sem exigir tanto poder computacional e gasto energético. Com isto, conseguiu melhorar seu desempenho e expandir seus casos de uso.
Nessa linha, a blockchain Solana é capaz de processar 65.000 transações por segundo (tps) e, atualmente, está processando 1.954 transações por segundo.
Suas taxas são de apenas US$ 0,00025 por transação, e os fundadores da Solana afirmam que suas taxas permanecerão a menos de $0,01 por transação, tanto para desenvolvedores quanto para usuários.
Não à toa, em junho de 2021, Solana concluiu uma rodada de capitação de investimentos no valor US$ 314,2 milhões e, no momento de fechamento deste artigo, seu token nativo (SOL) era o sétimo por capitalização de mercado, com uma valorização total de US$ 29,57 bilhões, atrás apenas do Bitcoin (BTC) , Ethereum (ETH), Tether (USDT), Binance Coin (BNb), USD Coin e Cardano, segundo dados do CoinGecko.
Nos momentos de stress que a verdade vem à tona
Apenas quando as redes blockchain experimentam altos níveis de congestionamento (grandes volumes de transações na rede) é que a escalabilidade, a velocidade e segurança realmente são postas à prova.
Pois bem, blockchains de segunda e terceira geração priorizam a escalabilidade e a interoperabilidade; no entanto, são blockchains relativamente menos descentralizados e não tão seguros como o Ethereum.
Daí porque, quando se deparam com um alto congestionamento em sua plataforma, é que estas redes podem realmente provar sua fama e real capacidade de crescimento e segurança.
Logo no início de 2022, após sofrer o terceiro ataque hacker DDoS em seis meses, a rede Solana parou de funcionar. A rede não suportou o volume do ataque e saiu do ar por algumas horas e retornou após a suposta correção de problemas que facititaram o DDoS. Os crescentes ataques DDoS na rede Solana se devem a certas desvantagens e falhas da rede no blockchain SOL, mas também devido à baixa descentralização.
Para compreender que a segurança da rede tem relação direta com o nível de descentralização de um blockchain, observe a figura abaixo:
(fonte: The Global Strategy)
Por outro lado, quando o preço das criptomoedas despencou na penúltima sexta-feira de janeiro, as transações por segundo (tps) reduziram significativamente frente aos altos níveis de congestionamento na rede, incapacitando os investidores de executar transações nestas blockchains de “alta” escalabilidade e velocidade; o que trouxe vários questionamentos.
“Como alguém pode confiar na rede Solana com capital real depois de um colapso como o de hoje?” disse Jim Greco, um guru da estrutura de mercado e ex-executivo da KCG, em um tweet na noite de 21 de janeiro. E no dia seguinte, acrescentou: “No dia seguinte a rede ainda não está funcionando. Ótimo trabalho, desenvolvedores!”
O fundador da Solana, Anatoly Yakovenko, por sua vez, justificou que bots estavam aparentemente enviando transações duplicadas, aumentando o problema.
Claro que Solana não foi a única rede blockchain a ter problemas após a queda dos preços no final de janeiro. Mas como sua popularidade foi construída em torno da alta escalabilidade e rápida velocidade das transações, rapidamente o congestionamento da rede ganhou as manchetes de importantes veículos como Bloomberg, BARRON’S e Yahoo Finance.
Takeaway
É claro que a escalabilidade é um importante fator a ser considerado em qualquer protocolo blockchain.
Uma blockchain que não escala sofre muitos períodos de congestionamento da rede e apresenta taxas de transação que ocasionalmente são maiores do que o valor do ativo que está sendo enviado.
E mais, a interrupção em redes blockchain costuma ter ramificações em todo o ecossistema cripto. Não só torna difícil tanto o acesso aos investidores de varejo (que, por exemplo, não conseguem prever quando poderão vender seu criptoativo ou NFT), como também retarda os grandes investidores em DeFi (os obrigando a trabalhar em torno da rede congestionada ou “fora do ar”).
No entanto, de mesmo modo, uma blockchain não pode ter como “prioridade principal” a escalabilidade (aqui compreendidos o custo e a velocidade das transações), sem dar a mesma importância a uma das qualidades mais revolucionárias: a descentralização.
Blockchains não efetivamente decentralizados minam o propósito para os quais foram concebidos, porque é a decentralização que garante a “segurança”, neutralidade política e autenticidade em um blockchain.
Mesmo porque, é muito provável que uma empresa que opere centenas de milhões de dólares prefira uma blockchain confiável para trabalhar e, capaz de atender os clientes nos momentos de mais stress do mercado, mesmo que a contrapartida seja arcar com taxas mais elevadas.
Quanto ainda falta para uma rede blockchain efetivamente fazer frente ou substituir o Ethereum, ou ainda, se estabelecer como “a VISA das criptos”, impossível prever.
Se “ainda” blockchains não escalam, vale lembrar que até a “world wide web” teve seu período de linha discada.
O que é importante, nisso tudo, é que a tecnologia blockchain tem apenas 13 anos e, já estamos vislumbrando um “mundo multichain”.
Este artigo foi produzido por Tatiana Revoredo, membro fundadora da Oxford Blockchain Foundation, representante no European Law Observatory on New Technologies e colunista da MIT Technology Review Brasil.