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Impulsionada pela Covid-19, a telemedicina é uma prática consolidada no Brasil e continua sendo uma importante ferramenta para o manejo de pacientes recém-infectados. O suporte virtual já é viável e traz agilidade em todas as etapas do atendimento: diagnóstico, prescrição e tratamento. Para aqueles que tratam sequelas da doença, a tecnologia também é crucial para uma jornada mais cômoda e eficiente no longo prazo.
Na “saúde do futuro”, que dá seus primeiros passos na contemporaneidade, o paciente diagnosticado precocemente passou a ser tratado em casa por meio da telemedicina e do monitoramento remoto. Com essas ferramentas, as internações passaram a ser indicadas apenas para casos graves, que geralmente acometem pacientes de grupo de risco, como idosos e imunossuprimidos. O ganho é mútuo: o paciente é cuidado com mais tranquilidade e conforto e os gastos do setor de saúde são realizados de forma mais sustentável.
Segundo Chao Lung Wen, presidente da Associação Brasileira de Telemedicina e Telessaúde (ABTms), apesar da redução no índice de transmissão da Covid-19, a ferramenta continua sendo importante tanto para seleção de pacientes que estão com sintomas do vírus quanto para tratar os que ficaram com sequelas.
“Não podemos pensar apenas em pacientes que estão infectados no momento. A telemedicina também é fundamental para pacientes que ficaram muito tempo na UTI e estão em tratamento por sequelas respiratórias e articulares”, afirma o médico.
Uma pesquisa publicada em 2022 pelo Jornal Clínico da Sociedade Americana de Nefrologia (CJASN, na sigla em inglês) (1) reforça que o tratamento a distância de pacientes com doenças renais — uma das principais sequelas da Covid-19 — gera resultados positivos.
O artigo “Provider Perspectives and Clinical Outcomes with Inpatient Telenephrology” (Perspectivas do Provedor e Resultados Clínicos com Telefrologia em Pacientes Internados, em tradução livre), evidencia que consultas presenciais de nefrologia realizadas em hospitais durante a pandemia não foram “significativamente diferentes”, em relação às virtuais (1).
“Hospitais não especializados em nefrologia e telenefrologistas tiveram opiniões favoráveis sobre a telemedicina e a maioria percebeu que é tão seguro e eficaz quanto o tratamento padrão”, informa o texto (1).
A pesquisa foi realizada com 850 pacientes internados em dois hospitais comunitários da Mayo Clinic Health System, organização presente nos Estados Unidos e na Europa, entre março de 2020 e fevereiro de 2021.
Adesão tecnológica
No Brasil, a telemedicina era utilizada de maneira mais tímida antes da pandemia. A emergência ocasionada pelo coronavírus reforçou a importância do aperfeiçoamento da tecnologia e da integração com outras áreas da saúde. O Hospital Israelita Albert Einstein, por exemplo, lançou em 2016 um centro de telemedicina no Brasil.
“Em 2019, a gente já tinha capacidade para atender 400 mil pessoas. Então, quando a Covid-19 chegou, nós já estávamos preparados, mas o vírus foi muito além do que esperávamos. Houve um colapso na nossa operação. Nossa base saiu de 100 atendimentos por dia para mais de 2 mil por dia em menos de um mês”, afirma Carlos Pedrotti, gerente do Centro de Telemedicina do Einstein.
Segundo Pedrotti, a pandemia exigiu rápidas adaptações em logística, equipe e qualificação dos médicos. Hoje, a Covid-19 responde a 5% de todos os atendimentos de telessaúde no hospital. A plataforma engloba uma equipe multidisciplinar com psicólogos, terapeutas, nutricionistas, educadores físicos e médicos, explica.
Acompanhamento domiciliar
O artigo “The utility of telemedicine in managing patients after Covid-19” (O papel da telemedicina no gerenciamento de pacientes após a Covid-19, em tradução livre) (2), publicado pela revista Nature em 2022, corrobora o papel da multidisciplinaridade mencionada pelo gerente do Einstein no tratamento de pacientes em recuperação do coronavírus.
O estudo evidencia que o telemonitoramento da saturação de oxigênio é útil na previsão do curso da Covid-19 e, por esse motivo, pode apoiar o tratamento de pacientes com sequelas respiratórias. O estudo foi realizado com 30 pacientes na Polônia entre dezembro de 2020 e maio de 2021.
De acordo com a pesquisa, a detecção da saturação domiciliar em repouso medida igual ou inferior a 94% mostra que um determinado grupo de pacientes não registrou melhoria clínica e apresenta maior variabilidade das medidas diárias de saturação de oxigênio.
Pacientes com medições corretas, por sua vez, podem retornar ao clínico geral porque parecem se recuperar espontaneamente com o tempo. Novas pesquisas são exigidas para listar os fatores que determinam quais pessoas devem ser envolvidas ou não nos novos programas de telemedicina, segundo a Nature (2).
A qualidade e a seriedade dos médicos justificam o sucesso da ferramenta, acrescenta Carlos Pedrotti. “A responsabilidade médica continua a mesma. O meio pelo qual o paciente está recebendo o atendimento está mudando e isso já faz parte do dia a dia dos médicos que atendem tanto na rede privada quanto na rede pública, no Brasil e no resto do mundo. É lógico que um treinamento para fazer um exame físico a distância, para utilizar as ferramentas digitais de videoconferência, de prescrição digital e para se portar diante da câmera é importante, mas a medicina é a mesma”.
Na “telemedicina do futuro”, Pedrotti diz que será possível fazer a escuta do pulmão e do coração e a apalpação do abdômen a distância por meio de dispositivos vestíveis, sensores e câmeras infravermelho. “Em breve, será possível utilizar a câmera de um celular com filtros especiais e alta sensibilidade para substituir um estetoscópio. As tecnologias estão em testes. Quando os recursos estiverem mais presentes, será possível superar os desafios logísticos e estar mais presente na vida do paciente”, antecipa.
A pesquisa TIC Saúde (3), divulgada em dezembro de 2022 pelo Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (Cetic), aponta o crescimento no uso de tecnologias por profissionais brasileiros em 2022 em comparação ao período anterior à pandemia (2019). Entre os enfermeiros, as anotações aumentaram de 52% em 2019 para 85% em 2022; o histórico e as anotações clínicas do paciente, de 62% para 85%. Já entre os médicos, os maiores aumentos foram na disponibilidade de lista de medicamentos prescritos (de 74% para 85%) e nos principais sintomas que levaram o paciente ao atendimento (de 77% para 85%).
O estudo também destaca o avanço na telessaúde após a pandemia. O monitoramento remoto de pacientes, por exemplo, que em 2019 era realizado por 16% dos enfermeiros, passou a ser utilizado por 29% deles em 2022. Entre os médicos, a prática foi de 9% para 23% no mesmo período. O serviço de teleconsultoria, contato entre profissionais da área para solução de dúvidas, aumentou de 26% para 34% entre enfermeiros e de 26% para 45% entre médicos.
Referências
- Androga LA, Zoghby Z, Ramar P, Amundson RH, D’Uscio M, Philpot LM, et al. Provider Perspectives and Clinical Outcomes with Inpatient Telenephrology. Clin J Am Soc Nephrol. 2022 May;17(5):655–62. 4. Bartczak KT, Milkowska-Dymanowska J, Piotrowski WJ, Bialas AJ. The utility of telemedicine in managing patients after Covid-19. Sci Rep. 2022 Dec 10;12(1):21392.
- Bartczak KT, Milkowska-Dymanowska J, Piotrowski WJ, Bialas AJ. The utility of telemedicine in managing patients after Covid-19. Sci Rep. 2022 Dec 10;12(1):21392.
- Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Sociedade da Informação (CETIC). TIC Saúde [Internet]. São Paulo: CETIC; [cited 2023 Apr 13]. Available from: https://cetic.br/pt/pesquisa/saude
PP-PAX-BRA-0072