A espaçonave Lucy da NASA, batizada em homenagem a um ancestral humano cujo esqueleto forneceu informações sobre os primórdios confusos de nossa espécie, começou a primeira etapa de sua jornada de 12 anos para nos ajudar a entender melhor as origens antigas de nosso sistema solar.
Após a decolagem realizada em Cabo Canaveral (EUA) em 16 de outubro em um foguete Atlas V, Lucy vai estudar os asteroides em uma área ao redor de Júpiter que se manteve relativamente intacta desde a formação do sistema solar, cerca de 4,6 bilhões de anos atrás.
“Lucy mudará profundamente nossa compreensão da evolução planetária em nosso sistema solar”, disse Adriana Ocampo, executiva do programa Lucy na NASA, durante uma coletiva de imprensa científica realizada em 14 de outubro.
A espaçonave funciona principalmente por combustível líquido, mas seus demais instrumentos usarão energia gerada por dois enormes painéis solares. A tecnologia de Lucy se baseia em missões anteriores, como o orbital Mars Odyssey e a sonda InSight, bem como a espaçonave OSIRIS-REx.
A missão de Lucy é voar perto de um asteroide na área lotada que circula o Sol entre Marte e Júpiter, e então continuar em direção aos asteroides conhecidos como troianos, dois aglomerados de corpos rochosos além do cinturão de asteroides. Esses agrupamentos de asteroides, um logo à frente do caminho de Júpiter e outro atrás dele, são remanescentes celestes dos primeiros dias do sistema solar.
Lucy obterá imagens em preto e branco e coloridas e usará um divisor de feixe de diamante para iluminar os asteroides com luz infravermelha distante para medir sua temperatura e fazer mapas de sua superfície. A nave também coletará outras medições conforme sobrevoa a área. Esses dados podem ajudar os cientistas a entender como os planetas podem ter se formado.
Sarah Dodson-Robinson, professora associada de física e astronomia da Universidade de Delaware (EUA), diz que Lucy poderia oferecer uma linha do tempo definitiva não apenas para quando os planetas se formaram originalmente, mas também onde.
“Se você conseguir definir quando os asteroides troianos se formaram, terá algumas informações sobre quando Júpiter se formou e pode começar a fazer perguntas como ‘Onde estava Júpiter no sistema solar?’”, diz ela. “Porque nem sempre esteve onde está agora. Ele mudou de lugar”.
Para determinar a idade dos asteroides, a espaçonave irá procurar por crateras superficiais que podem não ser maiores do que um campo de futebol.
“[Os asteroides troianos] não tiveram tantas quedas e quebras como os asteroides que estão mais perto de nós”, disse Dodson-Robinson. “Estamos potencialmente dando uma olhada em como alguns desses asteroides estavam logo após sua formação”.
Em sua jornada de 46.437 milhões de quilômetros, Lucy receberá três assistências de gravidade da Terra, que envolverão o uso da força gravitacional do planeta para mudar a trajetória da espaçonave sem esgotar seus recursos. Coralie Adam, vice-diretor da equipe de navegação da missão Lucy, diz que cada empurrão aumentará a velocidade da espaçonave de 322 quilômetros por hora para mais de 17.703 quilômetros por hora.
“Se não fosse por esta ajuda da gravidade terrestre, levaria cinco vezes a quantidade de combustível, ou três toneladas métricas, para atingir o alvo de Lucy, o que tornaria a missão inviável”, disse Adam durante uma entrevista coletiva de engenharia também realizado em 14 de outubro.
A missão de Lucy está programada para terminar em 2033, mas alguns funcionários da NASA já se sentem confiantes de que a espaçonave durará muito mais. “Haverá uma boa quantidade de combustível restante a bordo”, disse Adam. “Após o encontro final com os asteroides binários, enquanto a espaçonave estiver saudável, planejamos propor à NASA que faça uma missão estendida e explore mais asteroides troianos”.
Correção: atualizamos a idade dos asteroides troianos e esclarecemos sua relação com Júpiter.