E se o envelhecimento não fosse inevitável, mas uma doença curável?
Humanos e tecnologia

E se o envelhecimento não fosse inevitável, mas uma doença curável?

Se essa ideia controversa ganhar aceitação, poderá mudar radicalmente a maneira como tratamos o envelhecimento.

Cada ciclope tinha um único olho porque, segundo a lenda, os gigantes míticos davam o outro ao deus Hades em troca da capacidade de ver o futuro. Mas Hades os enganou: a única visão que os ciclopes tinham era o dia em que morreriam. Eles carregavam esse conhecimento por toda a vida como um fardo – a tortura interminável de serem avisados quanto a morte ​​e ainda assim não terem capacidade de fazer nada a respeito.

Desde os tempos antigos, o envelhecimento tem sido visto como simplesmente inevitável, incontrolável, o caminho da natureza. Há muito que as “causas naturais” são culpadas de mortes entre os idosos, mesmo que tenham morrido de uma condição patológica reconhecida. O escritor médico Galen argumentou no século II d.C. que o envelhecimento é um processo natural.

Sua visão, a aceitação de que alguém pode simplesmente morrer de velhice, domina desde então. Pensamos no envelhecimento como o acúmulo de todas as outras condições que se tornam mais comuns à medida que envelhecemos – câncer, demência, fragilidade física. Tudo o que nos diz, porém, é que vamos adoecer e morrer; não nos dá uma maneira de mudar isso. Não temos muito mais controle sobre o nosso destino do que um ciclope.

Mas um número crescente de cientistas está questionando nossa concepção básica de envelhecimento. E se você pudesse desafiar sua morte – ou mesmo impedi-la completamente? E se a panóplia de doenças que nos atinge na velhice são sintomas, não causas? O que mudaria se classificássemos o envelhecimento em si como a doença?


David Sinclair, geneticista da Escola de Medicina de Harvard, é um dos que estão na linha de frente desse movimento. A medicina, ele argumenta, deve encarar o envelhecimento não como uma consequência natural do crescimento, mas como uma condição em si mesma. A velhice, a seu ver, é simplesmente uma patologia – e, como todas elas, pode ser tratada com sucesso. Se rotulássemos o envelhecimento de forma diferente, isso nos daria uma capacidade muito maior de combatê-lo por si só, em vez de apenas tratar as doenças que o acompanham.

“Muitas das doenças mais graves hoje são em função do amadurecimento. Assim, identificar os mecanismos moleculares e os tratamentos do envelhecimento deve ser uma prioridade urgente”, afirma. “A menos que o abordemos em sua causa primordial, não poderemos continuar nosso progresso linear e ascendente em direção a períodos de vida cada vez mais longos”.

É uma mudança sutil, mas com grandes implicações. Como o termo “doença” é classificado e visto por grupos de saúde pública, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), ajuda a estabelecer prioridades para os governos e aqueles que controlam os fundos. Os reguladores, incluindo a Food and Drug Administration (FDA) dos EUA, têm regras estritas que orientam em quais condições um medicamento pode ser licenciado para agir e, portanto, em quais condições ele pode ser prescrito e vendido. Atualmente, o envelhecimento não está na lista. Sinclair diz que deveria, porque, caso contrário, o investimento maciço necessário para encontrar maneiras de se defender não aparecerá.

“O trabalho para desenvolver medicamentos que possam prevenir e tratar a maioria das principais doenças está indo muito mais devagar do que deveria, porque não reconhecemos o envelhecimento como um problema médico”, diz ele. “Se o envelhecimento fosse uma condição tratável, então o dinheiro fluiria para pesquisas, inovação e desenvolvimento de medicamentos. No momento, qual empresa farmacêutica ou de biotecnologia poderia lutar contra uma condição, se ela não existe?”. De acordo com Sinclair, este deveria ser o “maior mercado de todos”.

É exatamente isso que preocupa algumas pessoas, que pensam que a corrida do ouro para encontrar medicamentos “antienvelhecimento” definirá as prioridades erradas para a sociedade.

“Transforma uma discussão científica em algo comercial ou político”, diz Eline Slagboom, epidemiologista molecular que estuda o envelhecimento no Centro Médico da Universidade de Leiden, na Holanda. Ver a idade apenas como uma doença tratável prejudica a ideia de levar uma vida saudável, diz ela. Em vez disso, ela argumenta, os gestores de políticas e profissionais médicos precisam fazer mais para prevenir doenças crônicas da velhice, incentivando as pessoas a adotarem estilos de vida mais saudáveis ​​enquanto ainda são jovens ou de meia-idade. Caso contrário, a mensagem é “que não podemos fazer nada com ninguém [à medida que envelhecem] até que eles desenvolvam o início de uma doença ou comecem a envelhecer rapidamente, e nesse momento lhes daremos medicamentos”.

Outra objeção comum à hipótese do envelhecimento como uma doença é que rotular idosos como doentes aumentará o estigma que eles já enfrentam. “O “idadismo” é o maior ismo que temos hoje no mundo”, diz Nir Barzilai, diretor do Instituto de Pesquisas sobre o Envelhecimento da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York. “A comunidade de mais idade está sendo atacada. Pessoas são demitidas de seus empregos porque estão velhas. Idosos não conseguem empregos. Chegar até essas pessoas com tantos problemas e agora dizer: ‘Você está doente, está com uma doença’? Esta é uma situação sem benefícios para as pessoas que estamos tentando ajudar”.

Nem todos concordam que isto deve ser um estigma. “Sou claramente a favor de chamar o envelhecimento de doença”, diz Sven Bulterijs, co-fundador da Healthy Life Extension Society, uma organização sem fins lucrativos em Bruxelas que considera o envelhecimento uma “tragédia humana universal” com raízes que podem ser encontradas e tratadas para fazer com que as pessoas vivam por mais tempo. “Seria um insulto não dizer que um paciente com câncer tem uma doença”, acrescenta ele.


Não obstante o comentário de Sinclair sobre o “progresso linear e ascendente”, o limite da expectativa de vida humana continua sendo uma questão altamente controversa. A questão subjacente e fundamental: temos realmente que morrer? Se encontrássemos uma maneira de tratar e vencer o envelhecimento como uma doença, viveríamos por séculos – milênios, até? Ou existiria um limite final?

A natureza sugere que a vida sem fim pode não ser inconcebível. O exemplo mais conhecido, talvez, é o de pinheiros norte-americanos de longa duração (Pinheiro Bristlecone), considerados biologicamente imortais. Eles podem morrer – cortados por um machado ou atingidos por um raio – mas, se não forem perturbados, geralmente não caem porque ficam velhos. Se estima que alguns tenham 5.000 anos; a idade, literalmente, não os afeta. O segredo deles permanece um mistério. Outras espécies também parecem mostrar sinais de imortalidade biológica, incluindo algumas criaturas marinhas.

Tais observações levaram muitos a afirmar que a vida útil pode ser drasticamente prolongada com as intervenções corretas. Mas em 2016, um estudo de alto nível publicado na Nature argumentou que a vida humana tem um limite de aproximadamente 115 anos. Essa estimativa é baseada em dados demográficos globais, mostrando que as melhorias na sobrevivência com a idade tendem a declinar após 100 e que o recorde de longevidade humana não aumenta desde os anos 90. Outros pesquisadores contestaram a maneira como a análise foi feita.

Barzilai diz que, independente dos estudos, os esforços para combater o envelhecimento são necessários. “Podemos discutir se são 115, 122 ou 110 anos”, diz ele. “Agora, morremos antes dos 80 anos, assim, nos restam 35 anos que não estamos aproveitando. Então vamos começar a sermos conscientes desses anos antes de falarmos sobre imortalidade ou sobre algum lugar intermediário”.

Quer eles acreditem ou não na hipótese da doença ou no tempo máximo de vida, a maioria dos especialistas concorda que algo precisa mudar na maneira como lidamos com o envelhecimento. “Se não fizermos algo sobre o aumento drástico de pessoas mais velhas e encontrarmos maneiras de mantê-las saudáveis ​​e funcionais, teremos um grande problema de qualidade de vida e econômico em nossas mãos,” diz Brian Kennedy, diretor do Centro de Envelhecimento Saudável de Cingapura e professor de bioquímica e fisiologia da Universidade Nacional de Cingapura. “Temos que sair e encontrar maneiras de retardar o envelhecimento”.


O envelhecimento da população é a “mudança climática dos cuidados de saúde”, diz Kennedy. Esta é uma metáfora apropriada. Como no aquecimento global, muitas das soluções se baseiam na mudança do comportamento das pessoas – por exemplo, modificações na dieta e no estilo de vida. Mas, também como no aquecimento global, grande parte do mundo parece depositar suas esperanças em uma correção tecnológica. Talvez o futuro envolva não apenas a engenharia climática (ou também conhecida como geoengenharia), mas também uma “geroengenharia” (como uma engenharia da geriatria).

Uma coisa que pode estar subjacente aos crescentes apelos à reclassificação do envelhecimento como uma doença é uma mudança nas atitudes sociais. Morten Hillgaard Bülow, historiador da medicina da Universidade de Copenhague, diz que as coisas começaram a mudar na década de 1980, quando a ideia de “envelhecimento bem-sucedido” surgiu. Começando com os estudos organizados e financiados pela MacArthur Foundation nos Estados Unidos, especialistas em envelhecimento começaram a argumentar contra a aceitação estoica do declínio centenário de Galen, e disseram que os cientistas deveriam encontrar maneiras de intervir. O governo dos EUA, consciente das implicações para a saúde de uma população mais velha, concordou. Ao mesmo tempo, os avanços na biologia molecular criam uma nova atenção por parte dos pesquisadores. Tudo isso atraiu fundos de pesquisa para entender o que é o envelhecimento e o que o causa.

Na Holanda, Slagboom está tentando desenvolver testes para identificar quem está envelhecendo a uma taxa normal e quem tem um corpo com idade superior a seus anos. Ela vê o medicamento antienvelhecimento como último recurso, mas diz que entender a idade biológica de alguém pode ajudar a determinar como tratar doenças relacionadas à idade. Tomemos, por exemplo, um homem de 70 anos com pressão arterial levemente elevada. Se ele tem o sistema circulatório de 80 anos, a pressão elevada pode ajudar o sangue a atingir seu cérebro. Mas se ele tem o corpo de um homem de 60 anos, ele provavelmente precisa de tratamento.

Os biomarcadores que podem identificar a idade biológica são uma ferramenta popular na pesquisa sobre o envelhecimento, diz Vadim Gladyshev, do Brigham and Women’s Hospital, em Boston. Ele caracteriza o envelhecimento como o acúmulo de mudanças deletérias em todo o corpo, variando de mudanças nas populações de bactérias que vivem em nosso intestino a diferenças no grau de cicatrização química em nosso DNA, conhecido como metilação. Essas são medidas biológicas que podem ser rastreadas e também podem ser usadas para monitorar a eficácia dos medicamentos antienvelhecimento. “Quando podemos medir e quantificar a progressão ao longo do envelhecimento, isso nos dá uma ferramenta para avaliar intervenções de longevidade”, diz ele.

Duas décadas depois, os resultados dessa pesquisa estão se tornando aparentes. Estudos em camundongos, vermes e outros organismos-modelo revelaram o que está acontecendo no envelhecimento das células e criaram várias maneiras de prolongar a vida – às vezes a comprimentos extraordinários.


Marcos na história da pesquisa do envelhecimento 

1934 

Clive McCay descobre o conceito de restrição calórica ao analisar que os ratos vivem mais se consumirem dietas limitadas. 

1952 

O zoólogo e anatomista Peter Medawar propõe a ideia de senescência – envelhecimento celular – e argumenta que o envelhecimento está ligado à reprodução, em uma teoria que ele chama de “aptidão para a vida precoce”. 

1961 

Os biólogos Leonard Hayflick e Paul Moorhead descobrem que as células humanas derivadas de tecido embrionário se dividem em um número finito de vezes: o “limite de Hayflick”. 

1977 

Elizabeth Blackburn, de Yale, descobre que os telômeros, as estruturas nas extremidades dos cromossomos, têm propriedades incomuns e variam em tamanho com a idade. 

1980 

James Fries argumenta que toda pessoa nasce com uma vida útil potencial máxima, e a média é de 85 anos. 

1981 

Michael Rose, da Universidade da Califórnia, Irvine, cria uma variedade de mosca da fruta que pode viver quatro vezes mais que o normal. 

1993 

Cynthia Kenyon e seus colegas da UCSF descobrem a mutação daf-2, que dobra a vida útil dos nematóides. 

2000 

Leonard Guarente e colegas da MIT identificam o SIR2, um gene que pode prolongar a vida útil em cerca de 30% em leveduras. Eles também o ligam ao NAD +, uma molécula crítica para o metabolismo. 

2002 

James Vaupel propõe que o tempo médio de vida não tem limite superior e que pessoas de 150 anos serão comuns em 2150. 

2006 

Matt Kaeberlein, anteriormente do laboratório Guarente, e agora da Universidade de Washington, mostra que a rapamicina, um medicamento isolado de bactérias do solo na Ilha de Páscoa, pode aumentar a vida útil de células de levedura. 

2010 

O GlaxoSmithKline interrompe as pesquisas sobre o resveratrol porque causou danos nos rins em um ensaio clínico. 

2016 

Nir Barzilai e colegas descobrem que a metformina pode prolongar a vida útil dos bichos-da-seda sem reduzir o peso corporal. 

2019 

Uma equipe de pesquisa de Mayo, Wake Forest, e da Universidade do Texas, em San Antonio, anuncia resultados promissores de testes em humanos com senolíticos. 


A maioria dos pesquisadores tem objetivos mais modestos, com foco em melhorar o que eles chamam de “período de saúde” – por quanto tempo as pessoas permanecem independentes e funcionais. E eles dizem que estão progredindo, com um punhado de possíveis tratamentos em andamento.

Um tratamento promissor é a metformina. É um medicamento comum para o diabetes que existe há muitos anos, mas estudos em animais sugerem que ele também pode proteger contra a fragilidade, a doença de Alzheimer e o câncer. Usá-lo em pessoas saudáveis ​​pode ajudar a retardar o envelhecimento, mas sem orientação oficial, os médicos relutam em prescrevê-lo dessa maneira.

Um grupo de pesquisadores, incluindo Barzilai do Einstein College, está tentando mudar isso. Barzilai está liderando um teste em humanos chamado TAME (Targeting Aging with Metformmin) que intenciona administrar o medicamento em pessoas de 65 a 80 anos de idade, para ver se atrasa problemas como câncer, demência, derrame e ataques cardíacos. Embora o estudo tenha se esforçado para arrecadar fundos – em parte porque a metformina é um medicamento genérico, o que reduz os lucros em potencial para as empresas farmacêuticas – Barzilai dizia que ele e seus colegas estavam prontos para recrutar pacientes e começar no final de 2019.

A metformina é de uma classe mais ampla de medicamentos chamados inibidores da mTOR. Estes interferem com uma proteína celular envolvida na divisão e crescimento. Ao diminuir a atividade dela, os cientistas pensam que podem imitar os benefícios conhecidos das dietas de restrição calórica. Essas dietas podem fazer os animais viverem mais; acredita-se que o corpo possa responder à falta de comida tomando medidas de proteção. Testes humanos preliminares sugerem que os medicamentos podem estimular o sistema imunológico das pessoas mais velhas e evitar infecções.

Outros pesquisadores estão analisando por que os órgãos deixam de funcionar direito à medida que as células envelhecem, um processo chamado senescência. Entre os principais candidatos para encontrar e eliminar essas células decrépitas de tecidos saudáveis, há uma classe de compostos chamados senolíticos. Eles incentivam as células envelhecidas a se autodestruírem seletivamente, para que o sistema imunológico possa limpá-las. Estudos descobriram que camundongos mais velhos envelhecem mais lentamente com esses medicamentos. Nos seres humanos, as células senescentes são responsabilizadas por doenças que variam de aterosclerose e catarata a Parkinson e osteoartrite. Estão sendo realizados pequenos testes de senolíticos em humanos, embora não tenham como objetivo oficial o envelhecimento em si, mas doenças reconhecidas da osteoartrite e uma doença pulmonar chamada fibrose pulmonar idiopática.

A pesquisa sobre esses medicamentos destacou uma questão fundamental sobre o envelhecimento: existe um mecanismo comum pelo qual diferentes tecidos mudam e se deterioram? Em caso afirmativo, poderíamos criar medicamentos para atacar esse mecanismo, em vez de usar, o que David Sinclair, de Harvard, chama de remédio “caça à toupeira”, tratando doenças individuais à medida que surgem? Ele acredita que sim, e que encontrou uma nova maneira impressionante de rebobinar o relógio do envelhecimento.

Em um estudo inédito descrito no livro Lifespan: Why We Age – And Why We Don’t Have To (lançado em setembro de 2019), ele diz que a chave de seu trabalho no laboratório nessa área é a epigenética. Esse campo de rápido crescimento se concentra em como as mudanças na maneira como os genes são expressos, em vez de mutações no próprio DNA, podem produzir mudanças fisiológicas, como doenças. Alguns dos mecanismos epigenéticos do próprio corpo trabalham para proteger suas células, reparando danos ao DNA, por exemplo; mas eles se tornam menos eficazes com a idade. Sinclair afirma ter usado a terapia genética para reativá-los efetivamente em ratos, e ele diz que pode “tornar as células nervosas ópticas danificadas jovens novamente” para restaurar a visão de animais cegos idosos.

Nós já ouvimos isso antes. Muitos cientistas pensaram ter encontrado uma fonte da juventude em estudos com animais, apenas para obterem resultados insatisfatórios quando voltavam sua atenção para as pessoas. Mas Sinclair está convencido de que encontrou alguma coisa. Ele disse que publicaria os resultados em uma revista científica para outros pesquisadores examinarem.


Como o envelhecimento não é oficialmente uma doença, a maioria das pesquisas sobre esses medicamentos existem em uma área cinzenta: eles não abordam – ou oficialmente não podem enfrentar o envelhecimento. Por exemplo, o projeto de metformina de Barzilai, o mais próximo do mundo atualmente de um ensaio clínico para um medicamento direcionado ao envelhecimento, visa prevenir doenças associadas à velhice em vez do envelhecimento em si, assim como os ensaios com senolíticos. “E um dos efeitos colaterais é que você pode viver mais”, diz ele.

Barzilai não chegou ao ponto de dizer que o envelhecimento deve ser reclassificado como uma doença, mas ele diz que, se fosse, as descobertas poderiam acontecer mais rapidamente. Estudos como o TAME precisam dar às pessoas um remédio e aguardar anos e anos para ver se isso impede que alguns deles desenvolvam uma doença relacionada ao envelhecimento. E como esse efeito tem a probabilidade de ser relativamente pequeno, é necessário um grande número de pessoas para provar qualquer coisa. Se o envelhecimento fosse considerado uma doença, os ensaios poderiam se concentrar em algo mais rápido e mais barato de provar – como por exemplo se um medicamento poderia retardar a progressão de um estágio do envelhecimento para outro.

A Healthy Life Extension Society faz parte de um grupo que em 2018 pediu à OMS que incluísse o envelhecimento na última revisão de sua Classificação Internacional de Doenças oficial, CID-11. A OMS recusou, mas listou “relacionado ao envelhecimento” como um código de extensão que pode ser aplicado a uma doença, para indicar que a idade aumenta o risco de contraí-la.

Para tentar colocar pesquisas em tratamentos que tenham o envelhecimento como foco em uma base mais científica, um grupo diferente de cientistas está se preparando para revisar o problema com a OMS. Coordenado por Stuart Calimport, um ex-consultor da SENS Research Foundation na Califórnia, que promove pesquisas sobre envelhecimento, a proposta detalhada – cuja cópia foi vista pela MIT Technology Review – sugere que cada tecido, órgão e glândula do corpo devem ser pontuados – digamos, de 1 a 5 – quanto à suscetibilidade ao envelhecimento. Esse chamado processo de estadiamento já ajudou a desenvolver tratamentos contra o câncer. Em teoria, poderia permitir que os medicamentos fossem licenciados se parassem ou atrasassem o envelhecimento das células em uma região do corpo.

Reclassificar o envelhecimento como uma doença pode ter outro grande benefício. David Gems, professor de biologia do envelhecimento na University College London, diz que isso forneceria uma maneira de controlar os produtos antienvelhecimento charlatões. “Isso essencialmente protegeria as pessoas mais velhas do redemoinho explorador do negócio antienvelhecimento. Eles podem fazer todo tipo de alegações porque não é legalmente uma doença “, diz Gems.

Em fevereiro de 2019, por exemplo, o FDA foi forçado a alertar os consumidores de que as injeções de sangue de pessoas mais jovens – um procedimento que custa milhares de dólares e se tornou cada vez mais popular em todo o mundo – não tiveram benefício clínico comprovado. Mas não foi possível proibir completamente as injeções. Ao chamá-los de tratamento antienvelhecimento, as empresas escapam da supervisão rigorosa aplicada aos medicamentos que pretendem combater uma doença específica.

Em fevereiro de 2019, por exemplo, o FDA foi forçado a alertar os consumidores de que as injeções de sangue de pessoas mais jovens – um procedimento que custa milhares de dólares e se tornou cada vez mais popular em todo o mundo – não tiveram benefício clínico comprovado. Mas não foi possível proibir completamente as injeções. Ao chamá-los de tratamento antienvelhecimento, as empresas escapam da supervisão rigorosa aplicada aos medicamentos que pretendem atingir uma doença específica. Como os ciclopes, Cingapura teve um vislumbre do que está por vir – e as autoridades de lá não gostaram do que viram. A nação insular está na linha de frente do envelhecimento populacional. Até 2030, se as tendências atuais continuarem, haverá apenas duas pessoas trabalhando para cada aposentado (em comparação, os EUA terão três pessoas na força de trabalho para todos os residentes acima de 65 anos). Então, o país está tentando mudar o roteiro, para encontrar um final mais feliz e saudável.

Com a ajuda de voluntários, Kennedy, do Centro de Envelhecimento Saudável de Cingapura, está preparando os primeiros grandes ensaios de tratamentos focados em envelhecimento. Kennedy diz que está tentando testar de 10 a 15 intervenções possíveis – ele não dirá quais, por enquanto – em pequenos grupos de pessoas na casa dos 50 anos: “Estou pensando em talvez três ou quatro medicamentos e alguns suplementos, e depois compará-los com modificações no estilo de vida”.

O governo de Cingapura priorizou estratégias para lidar com o envelhecimento da população e Kennedy quer criar um “banco de testes” para essas experiências em seres humanos. “Fizemos grandes progressos em animais”, acrescenta ele, “mas precisamos começar a fazer esses testes nas pessoas”.

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