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O conceito de Inteligência Artificial começou a ser desenvolvido há mais de 60 anos e desde então diversas soluções baseadas na tecnologia foram implementadas na sociedade. Mas foi a ascensão do ChatGPT, entre outros modelos de linguagem, que lançou luz para o potencial transformador da IA. Alguns especialistas chegam a compará-la com o surgimento da energia elétrica, de tão disruptiva que a tecnologia está se comprovando.
O grande ponto de virada observado nos últimos anos é o desenvolvimento, cada vez mais acelerado, da vertente Inteligência Artificial generativa (IA generativa), que basicamente se caracteriza pelo uso de modelos de aprendizado de máquina, como das Redes Neurais Generativas (GANs), para a criação de conteúdos originais, incluindo textos, imagens, vídeos e até mesmo músicas.
Essa capacidade de gerar novas informações tem aberto um universo de possibilidades para a aplicação da IA generativa em diversos setores, incluindo o da educação. Neste segmento, a tecnologia pode atuar como uma poderosa aliada em termos de personalização e acessibilidade, além de contribuir para a adoção de estratégias de reformulação das metodologias de ensino que estimulam o engajamento dos alunos.
No entanto, como qualquer outro avanço tecnológico, o uso da IA generativa na educação também impõe muitos desafios. Agora os estudantes têm acesso a informações específicas de uma maneira nunca explorada antes, cabendo aos educadores encontrarem novas formas de fazê-los pensar e questionar os conteúdos que acessam.
Já as instituições devem assumir a responsabilidade de auxiliar os educadores no processo de revisão e reestruturação das propostas pedagógicas utilizadas em sala de aula. Cada vez mais ficará em evidência a necessidade de contextualizar as informações e propor atividades que instiguem os alunos a desenvolverem seu pensamento crítico.
Mas talvez um dos principais riscos seja, justamente, as Instituições de Ensino, junto aos educadores, não conseguirem fazer essa intermediação para que os alunos utilizem a ferramenta como aliada do processo de ensino-aprendizagem. A preocupação é que, ao contrário, acabem expostos a informações falsas e não aprimorem sua capacidade de análise, reflexão e crítica.
Novas perspectivas para instituições e educadores
A necessidade de adoção de metodologias ativas no processo educacional é uma pauta há muito tempo discutida no setor. Mas, no contexto atual, a demanda se tornou ainda mais urgente.
As metodologias ativas referem-se a uma abordagem pedagógica cujo principal objetivo é colocar o estudante no centro do processo de aprendizagem, incentivando que ele tenha mais autonomia e participação. Ao contrário do ensino tradicional, no qual os educadores assumem o papel de detentores do conhecimento, essa abordagem propõe a realização de atividades que promovam o desenvolvimento de habilidades como pensamento crítico, colaboração, comunicação e resolução de problemas.
É preciso estimular os alunos a refletirem, questionarem e cocriarem. Caso contrário, será observado o surgimento de uma nova problemática: os alunos desenvolvendo apenas a competência de prompt para as IA generativas (dando comandos para estimular uma resposta ou ação), sem que absorvam realmente o conhecimento que precisam.
O primeiro passo para garantir que as metodologias ativas sejam aplicadas de maneira eficaz, é entender a importância da capacitação docente. Ou seja, tanto os professores devem buscar se capacitar quanto a Instituição de Ensino precisa estar preparada para proporcionar meios de viabilizar que essas estratégias sejam de fato adotadas dentro das práticas pedagógicas, acompanhando o desenvolvimento dos alunos.
Outro ponto que a Inteligência Artificial reforça é a capacidade de personalização do ensino. Com o uso de ferramentas generativas, as instituições têm acesso a indicadores e informações mais precisas sobre o quanto o aluno está engajado com um conteúdo, por exemplo. Esse tipo de análise de dados permite às instituições trabalharem melhores estratégias para reter o aluno e oferecer um ensino adaptativo e totalmente personalizado para atender as necessidades e individualidades de cada um.
Muitas instituições já começaram a implementar a IA como uma tutoria automatizada no ambiente de ensino dos alunos, o que é muito eficiente tanto em dúvidas de conteúdo ou operacionais. Porém, é importante que o aluno tenha à sua disposição uma pessoa para auxiliá-lo quando ele não estiver familiarizado com a IA. Ou seja, até que os estudantes tenham maturidade para lidar com a IA generativa e todo esse acesso à informação, é muito importante que exista esse trabalho de curadoria, mentoria e que a figura do professor esteja sempre acessível aos alunos.
Desafios para a produção de conteúdo educacional
Essa reconfiguração nas formas de elaborar conteúdo educacional requer, por parte das produtoras, uma responsabilidade ainda maior. A Inteligência Artificial generativa de fato oportuniza a exploração de novos formatos, facilita a produção e ajuda a reduzir custos de processo, mas por outro lado, especialmente enquanto ainda não existe uma regulação para isso, deve-se ter a consciência de que um material de qualidade precisa da análise de um especialista que possa garantir a confiabilidade das informações.
Já as empresas e instituições devem ter cuidado com a aquisição de novos materiais. Além disso, não devem acreditar na falsa ilusão de que utilizar apenas uma ferramenta como o ChaGPT é o suficiente para produzir um conteúdo que possa ser utilizado em sala de aula, porque todo esse processo de elaboração, na prática, requer uma curadoria de ponta a ponta.
Um dos problemas que podem ocorrer, por exemplo, é que dependendo da pergunta feita a um chatbot baseado em IA generativa, é possível obter uma linha de pensamento que não necessariamente traduz as diretrizes trabalhadas na metodologia da instituição e não estará condizente com os objetivos do curso. Por isso é tão importante a figura do especialista no papel de curador.
Ética e responsabilidade social
Cabe ressaltar ainda que um dos assuntos de maior importância atualmente quando se fala em Inteligência Artificial é o processo de regulação da tecnologia. No cenário ideal, a regulação teria que andar mais rápido para acompanhar a evolução da IA — e não tem como fazer isso sem que as duas coisas evoluam em paralelo.
Em diversas partes do mundo, como nos Estados Unidos e em países da União Europeia, já há articulações para delimitar as regras envolvendo os usos de Inteligência Artificial e aqui no Brasil também precisamos fazer isso com bastante urgência.
Além disso, o regulamento aborda várias questões, incluindo transparência, supervisão, conformidade, avaliação de riscos e proibições específicas para certas aplicações consideradas de alto risco. Ele também busca garantir a proteção dos direitos fundamentais dos cidadãos, como a privacidade e a não discriminação. E isso também se aplica a Instituições de Ensino.
De fato, devemos utilizar o potencial de uma tecnologia como essa para explorar novas possibilidades, atualizar práticas pedagógicas e avançar na qualidade do ensino, mas isso deve ser feito com responsabilidade para minimizar o risco de surgimento de problemas relacionados a direitos autorais e desinformação.
Um outro ponto de reflexão é sobre como as grandes corporações estão se beneficiando dessa falta de regulação da IA. Olhar essa questão também é importante para que o crescimento da tecnologia ocorra de maneira justa, dando oportunidade para todos desenvolverem soluções tecnológicas que serão utilizadas na educação e em outros setores.