Como surfar a onda da inovação e não ser vítima da destruição criativa
HealthHealth Innovation por Einstein

Como surfar a onda da inovação e não ser vítima da destruição criativa

A história mostra que somente as empresas e organizações que se mantêm em constante inovação e adaptação sobrevivem, mas incorporar novos processos e estratégias é um desafio. Veja sete conselhos compartilhados por executivos de sucesso no Einstein’s Breakthrough 2022.

Nas primeiras décadas do século passado, o economista Joseph Schumpeter mostrou que a teoria da seleção natural de Darwin pode também ser vista sob a ótica das ciências humanas. Para ele, o desenvolvimento econômico ocorre como resultado de inovações, que funcionam como a força motriz para a evolução da sociedade.

O cenário global dos últimos anos mostrou que, assim como as teorias evolucionistas, sobreviveram no mercado as empresas e organizações que melhor se adaptaram às mudanças. Algumas já tinham a cultura de inovação avançada, outras precisaram se reinventar, com maior necessidade de transformações.

Quem não acompanha essa evolução tende ser eliminado do mercado. No fenômeno chamado de destruição criativa, a ação empreendedora que leva à criação de novos produtos ou processos acaba por tornar os concorrentes anteriores obsoletos ou sem vantagens competitivas. O desafio está em entender processos e estratégias fundamentais para se manter inovador.

O tsunami

Historicamente, as grandes inovações não acontecem de forma constante ao longo do tempo, e sim agrupadas e em movimentos cíclicos ondulatórios, ou business cycles, de acordo com a teoria schumpeteriana.

Pensando em ondas, podemos dizer que, desde o ano 2020, vivemos um tsunami de inovações e adaptações. A digitalização foi a peça-chave para permitir a conexão entre as pessoas e para a sobrevivência de muitas empresas durante a pandemia da Covid-19. Tecnologia e serviços ajudaram empresas a se reinventarem.

É claro que empresas que estavam no line up, esperando o melhor momento para dropar, tiveram maior destaque. A tecnologia de inteligência artificial Watson, da IBM, que já estava no Brasil há alguns anos, por exemplo, teve seu uso acelerado durante o período de pandemia, justamente por atender às necessidades de interações que precisavam ser escaladas de uma hora para outra.

Também foi o caso do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), um precursor da telemedicina no país. Um levantamento feito pela instituição mostra que, entre 1º de março de 2020 e 31 de dezembro de 2021, foram realizados 451.375 atendimentos nessa modalidade, com tempo médio de espera de pouco mais de três minutos e mais de 85% de resolutividade de casos, sem necessidade de encaminhamento para atendimento presencial.

Como uma das primeiras medidas do Executivo para o enfrentamento à crise sanitária, foi criado um marco legal de caráter emergencial e provisório para a telemedicina, com a publicação da Lei 13.989, de 15 de abril de 2020. Como sempre, a inovação induziu o processo de criação de uma regulamentação definitiva, atualmente em fase de aprovação no Congresso Nacional.

Para o presidente da IBM Brasil, Marcelo Braga, a necessidade de adaptação foi brutal e quem já investia em tecnologia acabou sofrendo um pouco menos. A avaliação foi feita durante um dos painéis do Einstein’s Breakthrough 2022, evento realizado em parceria com a MIT Technology Review Brasil no primeiro semestre deste ano.

O executivo explica que, em um primeiro momento da discussão da pandemia, o foco era como levar os negócios a habilitarem as empresas a um trabalho remoto. Estavam em jogo a conectividade, o acesso a sistemas e a viabilidade de processos desenhados para acontecerem de forma remota.

“Parece simples, mas não quando você tem que fazer isso da noite para o dia, de uma forma hiperacelerada. Empresas que estavam com projetos de transformação digital tiveram que acelerar, literalmente, cinco anos em um”, afirmou.

O segundo momento trouxe a pauta de como sobreviver a um novo mundo que parecia ser transitório, mas acabou persistindo muito mais do que se imaginava. Surgiu, então, a necessidade de adaptação dos negócios à nova realidade.

Na crista da onda

Como um dos principais centros de inovação na área de saúde no Brasil, o HIAE sempre estimulou o pensamento inovador para se posicionar na vanguarda. Na prática, esse é o caminho a ser seguido para estar na crista da onda.

Visitas a diversas instituições de saúde norte-americanas, iniciadas em 2014, levaram o time envolvido a perceber a relevância e o impacto do movimento de transformação na saúde. Assim, foi criado um programa que incluía o estímulo à inovação interna, mas também uma abertura para fora da instituição.

Na época, startups começaram a ser acolhidas pelo Einstein. Um dos elementos mais relevantes nesse aspecto foi a criação da incubadora Eretz.bio, que tem como principal missão fomentar o ambiente de empreendedorismo e inovação em saúde no Brasil.

Ao longo dos anos, essa abertura permitiu a captação de novas ideias para dentro da organização. A partir do momento em que a equipe interna, focada na produção de serviços, começou a perceber a relevância da inovação para suas atividades, ampliou-se a cultura da inovação.

Outro ponto-chave foi a seleção de frentes estratégicas importantes para a organização, como a terapia celular, a genômica, a saúde digital e a saúde populacional. Tais frentes demandam grandes massas de dados e capacidade de coleta, análise e produção de predições com o Big Data Analytics.

“Há uma viagem que começa com a inovação, com a seleção de temas estratégicos, com a gestão de dados. Depois, finalmente se chega à possibilidade de aplicarmos isso às pessoas que nos procuram de um ponto de vista assistencial, seja melhorando a qualidade do cuidado, que vai até a medicina de precisão, seja melhorando a qualidade do atendimento, podendo customizar a experiência do paciente com base nas informações que temos dele”, contou Henrique Neves, diretor-geral da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, também durante o Einstein’s Breakthrough 2022.

A cultura

Nos anos 1930, Schumpeter já pontuava que a inovação é a introdução de uma novidade técnica ou organizacional no mercado, e não apenas sua invenção. Aí mora a relevância da cultura que precisa ser implementada nas instituições, em diferentes frentes, mas sempre com o objetivo de se criar cenários viáveis para a transformação, através de estratégias, processos e recursos humanos, até que ela se torne uma realidade no mercado.

No contexto atual, dificilmente vemos uma prestação de serviço que não seja predominantemente digital. Os profissionais das empresas de tecnologia e daquelas que prestam serviços, como um hospital, uma instituição financeira ou uma indústria, estão cada vez mais próximos.

Para Igor Freitas, sócio e head de transformação digital na XP, o programa de transformação digital precisa ser visto como um modelo organizacional, uma cultura. A tecnologia é apenas uma das partes integrantes e muitas das falhas nessa implementação ocorrem quando o processo é muito técnico.

“Há quatro grandes linhas que precisam ser percorridas para o sucesso das implementações: o modelo operacional, os processos, as tecnologias e os clientes. Se você não atacar as quatro de maneira consistente e coerente, os programas de transformação falham. E grande parte deles falham porque são muito técnicos. Eles não são técnicos, eles são modelo organizacional, eles são cultura”, avaliou, no evento.

O primeiro pilar citado para a transformação digital é o modelo operacional, que também pode ser entendido como um modelo organizacional. Sem uma empresa fértil para que a transformação digital aconteça, organizada para isso, há chances de falha. Uma estrutura muito hierarquizada, por exemplo, de difícil transformação, representa um desafio.

O segundo se refere a processos e práticas, os quais precisam estar adaptados aos contextos de transformação e prontos para responderem a algumas perguntas. Como eu posso colocar times multidisciplinares para trabalhar dentro desse modelo organizacional adaptado? Como eu trago uma startup para uma empresa tradicional? Como são os processos de compliance? Como são os processos de integração?

O terceiro componente, segundo o executivo da XP, é representado pela tecnologia, que funciona como o facilitador para que a transformação ocorra, pensada de maneira moderna.

O último pilar — e o centro de tudo — é o cliente. Toda a organização, a criação de processos e práticas e as tecnologias modernas têm como objetivo final um cliente mais satisfeito.

Como não ser uma vítima da destruição criativa

Ao criar a lâmpada elétrica incandescente, Thomas Edison levou ao desuso lamparinas e velas. Quando novas tecnologias surgem, possuem vantagens competitivas em relação a seus concorrentes tecnologicamente defasados. Atividades que não caminham lado a lado com a inovação acabam sendo eliminadas em algum momento.

O Einstein’s Breakthrough 2022 foi pensado com a intenção de fomentar discussões sobre processos e estratégias para manter e ampliar a cultura de inovação. Em um dos debates, foram levantados pontos críticos que podem funcionar como barreiras ou como oportunidades para se manter inovador. São inúmeras as variáveis envolvidas, mas alguns temas foram destacados.

Como evitar o gasto de energia com muitas remadas e, ainda assim, não conseguir alcançar a onda? A MIT Technology Review Brasil numerou sete conselhos com base na percepção dos painelistas:

1 – Capacitação de profissionais de tecnologia

A área de tecnologia é hoje o segmento mais desafiador do ponto de vista de recursos humanos, com carência de profissionais de dados, de tecnologias modernas, desenvolvimento de softwares, associados a cloud ou uso de tecnologias emergentes.

Esse cenário não se forma somente pela alta demanda relacionada ao processo de transformação digital global, mas também pela carência de investimento educacional. Para Igor Freitas, da XP, toda empresa que tiver condições de treinar profissionais para ela ou para o mercado trará benefícios no longo prazo.

2 – Melhor gestão de dados

O desafio de se construir uma cultura baseada em dados, tanto na área de saúde quanto nos outros setores, implica em elevar o entendimento desse mindset nas organizações. É preciso investir para melhorar a gestão de dados, incluindo critérios rigorosos para coleta e para análise, com o intuito de assegurar sua qualidade.

A privacidade é também um ponto sensível na relação entre pacientes e instituições, por isso é necessário ter sempre em vista que esses dados são sensíveis e precisam ser tratados com atenção, cuidado e segurança.

3 – Cuidado redobrado com a privacidade

A privacidade é também um ponto sensível na relação entre pacientes e instituições, por isso é necessário ter sempre em vista que esses dados são sensíveis e precisam ser tratados com atenção, cuidado e segurança.

4 – Segurança cibernética

Apesar dos avanços conquistados com a evolução da digitalização das instituições, nunca se viu tantas empresas brasileiras sendo invadidas ou tendo que lidar com outros problemas de segurança cibernética. A rapidez necessária para a adaptação a um trabalho remoto e a novos processos gera maior exposição, portanto o investimento em segurança tem que ser uma prioridade.

5 – Cultura digital

A principal falha, quando se pensa em transformação digital, ocorre quando ela começa em tecnologia e termina em tecnologia. É preciso falar de cultura, de transformação, de mindset. É preciso estabelecer novos modelos de trabalho, novos processos de relacionamento, ressaltando que a tecnologia não é o fim, e sim o meio.

6 – Olhar para fora

Assuntos previamente muito setorizados hoje permeiam todos os ecossistemas. Marcelo Braga, da IBM Brasil, destacou que o limite entre as indústrias deixou de existir, por isso há necessidade de se olhar para fora. A partir dessa relação intersetorial, há troca de informações que colaboram para o amadurecimento do processo de transformação. Dessa maneira, é possível fazer correlações e imaginar novas oportunidades.

7 – Busca constante

Apesar dos movimentos ondulatórios, é preciso manter a cultura da inovação acesa dentro das instituições de forma permanente. Como avaliou Henrique Neves, diretor-geral da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, o processo de inovação nunca termina.


Este artigo foi produzido por Roberta Arinelli, Medical Director na ORIGIN Health Co. e Editora-executiva da MIT Technology Review Brasil.

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