O networking é considerado uma forma de facilitar o desenvolvimento de oportunidades pessoais e profissionais, apoiando a ideia de comunicação aberta e acesso a recursos dentro de organizações pares e setores transversais.
É de senso comum na literatura do tema que a qualidade da rede de contatos de uma pessoa tem tanta ou mais influência no sucesso da carreira do que suas habilidades, conhecimentos e experiência. Uma crença resumida pelo ditado comum: “não é o que você sabe, é quem você conhece”.
Afirmação essa respaldada pelo artigo “How to get a job often comes down to one elite personal asset, and many people still don’t realize it”, veiculado na CNBC. Dados mostram que 70% das vagas de empregos nunca são comunicadas publicamente — tais oportunidades são criadas especificamente para candidatos que os recrutadores conhecem por meio de networking.
Ainda de acordo com o artigo “Eighty-percent of professionals consider networking important to career success”, publicado pelo LinkedIn, 70% dos profissionais contratados em 2016 tinham uma conexão em sua empresa e 80% dos profissionais consideraram o networking vital para o sucesso de sua carreira.
As raízes desse fenômeno podem ser rastreadas até a obra “The Nature of Managerial Work”, publicada pela primeira vez em 1973 por Mintzberg, que chamou a atenção para o papel dos gerentes como criadores e mantenedores de contatos e interações com outras pessoas que estavam fora da cadeia formal de comando organizacional.
Por sua vez, os autores Sam Gould e Larry Penley, em “Career strategies and salary progression: a study of their relationships in a municipal bureaucracy”, fornecem uma das primeiras definições empíricas de networking, onde a prática é descrita como “desenvolver um sistema ou ‘rede’ de contatos dentro e/ou fora da organização, fornecendo assim informações relevantes sobre a carreira e apoio para o indivíduo”.
A Oxford Economics publicou um estudo completo sobre a importância do networking para os relacionamentos comerciais, tais quais aqueles com clientes, parceiros e fornecedores. A conclusão é que negligenciar o poder de se “relacionar” pode afetar os lucros diretos de um empreendimento: executivos revelam que perderiam 28% de seus negócios se parassem de investir em networking.
Quem segue essas diretrizes é Bill Gates, fundador da Microsoft. Sem dúvidas, uma das figuras mais influentes da indústria de software, sua visão é traduzida pela tagline “computação integrada”. Tal direcionamento levou sua empresa, na segunda metade da década de 1980, a se tornar a maior fornecedora de softwares da “concorrente” Apple.
Uma dessas grandes ironias escritas pela história corporativa, mas que aconteceu sumariamente devido à relação próxima entre Steve Jobs e Bill Gates.
Vale do Silício: o centro de diversidade e o poder da conexão
E o que falar sobre o Vale do Silício, o maior centro de inovação e diversidade corporativa do mundo? O que está por trás desse fenômeno?
Em “Unity and Diversity in High-tech Growth and Renewal: Learning from Boston and Silicon Valley”, Henry Etzkowitz afirma que embora a infraestrutura organizacional do Vale fosse relativamente fraca em seus primeiros anos de atuação, seu modo de operação baseado em networking tornou-se uma virtude proeminente de sucesso e avanço tecnológico.
Desde então, foram criadas estruturas formais, ligando atores universitários, industriais e governamentais para enfrentar quaisquer adversidades de um mercado em exponencial evolução. A Universidade de Stanford teve um papel vital para tal fenômeno.
Esforços colaborativos para criar novos paradigmas tecnológicos despontaram no Vale do Silício durante a recessão do início dos anos 1990 e após a bolha das pontocom em 2001. Nessa época, fora estabelecido o Joint Venture Silicon Valley (JVSV), reunindo executivos de empresas de alta tecnologia, autoridades governamentais locais e acadêmicos para uma série de reuniões públicas.
Algumas das ideias que surgiram dessas discussões se tornaram projetos para o desenvolvimento de novas indústrias de alta tecnologia. Assim, o “Smart Valley” formalizou e ampliou algumas das redes informais que se mostraram cruciais para o desenvolvimento da indústria de alta tecnologia na região.
Outro viés que explica tal ascensão é a consolidação dos Venture Capitalists no Vale, impulsionados pelo sucesso da Digital Equipment Corporation (DEC). A American Research and Development Corporation (ARD) pivotou seu foco regional para políticas de desenvolvimento público, formatadas com base em parcerias entre seus gestores e investidores. Em paralelo, a indústria de semicondutores forneceu sustentação para o crescimento de escala do mercado de capital de risco.
O Vale do Silício soube, sobretudo, transformar-se no centro de um fluxo dinâmico global de tecnologias, fundos e ideias. Pessoas, especialmente do leste e do sul da Ásia, viajam para o norte da Califórnia para educação e trabalho, fomentando a mistura cultural da região.
Esses vários estímulos produziram fortes recursos técnicos e humanos. A indústria inicial de semicondutores se baseou nesse talento tanto quanto a indústria de minicomputadores em Boston se apoiou em recursos humanos semelhantes das indústrias metalúrgica e relojoeira.
Considerada uma vantagem regional central, o ato de reunir pessoas de diferentes partes do mundo e pedir-lhes que trabalhem através das diferenças culturais exige que os profissionais criativos sejam mais flexíveis e inovadores.
“O que precisamos são formas de pensar que sejam sensíveis às particularidades, às individualidades, às singularidades, às descontinuidades, aos contrastes e sensíveis ao que Charles Taylor chamou de ‘diversidade profunda’, uma pluralidade de formas de pertencer e ser, e que ainda possam extrair delas um senso de conexão, uma conexão que não é nem abrangente, nem uniforme, primordial, nem imutável, mas ainda assim real”, defendeu Clifford Geertz no ainda atual artigo Available Light, publicado em 2000 na Princeton University Press.
Mercado de tecnologia se retroalimenta, “incuba” e traz o valor intangível do smart money
Entre as muitas formas de apoiar o crescimento de scale-ups de tecnologia, uma que tem despertado interesse gradual são as incubadoras de empresas. Tais modelos são considerados instrumento eficaz de política para apoiar o crescimento e o desenvolvimento de negócios dessa natureza.
À medida que as incubadoras se tornaram populares, sua infraestrutura foi se transformando. A primeira geração delas oferecia essencialmente escritórios acessíveis e compartilhados. No entanto, percebeu-se que a criação de uma incubadora por si só não era suficiente para gerar um ambiente propício ao crescimento das empresas hospedadas.
Ficou evidente, como argumenta Massimo Colombo em “Founders’ human capital and the growth of new technology-based firms: A competence-based view”, que as novas empresas precisavam de um certo tipo de apoio, especialmente em áreas de habilidades sociais, como entender as condições de mercado e como gerenciar uma empresa. O chamado Smart Money, além da contraproposta tangível de aporte.
Em tempo que essa percepção se tornou mais aceitável no mercado, foi colocada mais ênfase no desenvolvimento do acesso ao networking e capacidades de criar fortes redes de apoio. Uma consequência disso foi o surgimento de um novo tipo de incubadora de empresas conhecido como incubadora em rede.
Esse modelo de negócio ajuda as empresas a desenvolverem networking para o crescimento, concentrando-se em atividades entre os sediados na incubadora e outras organizações externas relacionadas.
Hoje, as incubadoras de empresas são percebidas mais como organizações intermediárias que apoiam as empresas ajudando-as a estabelecer e desenvolver redes com uma ampla gama de atores econômicos.
Networking como propulsor da inovação
Uma máxima: pessoas ligadas por laços fortes confiam umas nas outras. Muitos avanços científicos e tecnológicos resultam de inúmeras contribuições literárias que trabalham com uma rede ativa de networking e os padrões necessários para que uma tecnologia funcione em diferentes mercados.
O estudo “Network configuration and innovation success: an empirical analysis in German high-tech industries” examina os efeitos do networking na inovação. Esse estudo demonstra que as empresas que usavam formas particulares de networking tinham probabilidade de ter quase 20% mais melhorias de produto do que as empresas que não se relacionavam.
Da mesma forma, o desenvolvimento de novos produtos é 7%–10% maior nessas empresas. O grau de sucesso da inovação no estudo também ilustra uma chance muito maior de a inovação ser tecnicamente bem-sucedida e mais economicamente relevante quando as empresas usam práticas de networking.
Os benefícios da inovação relacionada ao networking incluem:
- Compartilhamento de riscos;
- Obtenção de acesso a novos mercados e tecnologias;
- Aceleração de produtos para o mercado;
- Reunião de habilidades complementares;
- Salvaguarda dos direitos de propriedade quando contratos completos ou contingentes não são possíveis;
- Atuação como veículo-chave para obter acesso ao conhecimento externo.
As evidências do estudo também ilustram que aquelas empresas que não cooperam e que não trocam conhecimento formal ou informal limitam sua base de conhecimento a longo prazo e, em última análise, reduzem sua capacidade de inovação.
Networking como ferramenta propulsora da inovação, primeiramente, melhora o acesso ao conhecimento — promovendo conscientização e adoção precoce de inovações — e, em segundo lugar, impulsiona a interação social, gerando confiança e reciprocidade que é propícia à transferência de conhecimento e acordos comerciais.