Como a convergência está moldando os negócios futuros?
Negócios e economia

Como a convergência está moldando os negócios futuros?

O mapeamento da convergência de setores pode ajudar as empresas a ficarem à frente das novas dinâmicas de mercado e desenvolver novos produtos e serviços com propostas de valor únicas e diferenciadas para seus clientes

A convergência entre setores está reconfigurando a competição, criando novos ecossistemas de negócio em que duas ou mais companhias se juntam para inovar e entregar valor para o cliente – criando novas fronteiras de mercado, trazendo competidores antes inesperados para a arena e mudando o equilíbrio das forças competitivas. 

Ao juntar capacitações únicas, parceiros atuando em ecossistemas estão desenvolvendo novas propostas que são mais difíceis de serem replicadas, por trazerem capacitações de diferentes setores em uma forma única. Uma pesquisa recente da EY com executivos identificou que 87% deles acreditam que o fortalecimento desse modelo de negócio e governança ajuda a estimular a inovação e criatividade entre empresas de indústrias adjacentes. 

O ritmo dessa convergência e à confluência inesperada de setores antes vistos como distante podem trazer surpresas até para empresas inovadoras. Para ficar à frente da competição, as empresas precisam perceber como clientes e mercados estão mudando, e entender de quais tipos de ecossistemas elas devem participar para adquirir capabilities e desenvolver produtos e serviços difíceis de serem copiados, com propostas de valor únicas. 

Em função da natureza desses movimentos de convergência, envolvendo indústrias com dinâmicas distintas e uma miríade de combinações possíveis, a identificação das tendências e entendimento do que são movimentos fortes o suficiente para mudar um mercado requer uma análise aprofundada dos dados de mercado. Um olhar menos rigoroso pode deixar passar tendências importantes ou atribuir peso desmedido a movimentos contidos. 

Como forma de entender melhor esse movimento de convergência, lançamos um olhar analítico sobre uma das formas em que empresas de setores distintos se juntam para criar novas ofertas e serviços ou entrar em novos mercados – as fusões e aquisições. Nos últimos cinco anos, uma em cada cinco transações de fusão e aquisição foram entre empresas tradicionalmente consideradas de indústrias diferentes. 

A motivação dessas transações é diversa, enquanto algumas são oportunísticas, outras sinalizam a convergência entre duas indústrias. 

Para separar o sinal do ruido, a EY analisou dados dos últimos 20 anos de transações de M&A (Fusões e aquisições, em tradução literal), empregando uma série de algoritmos analíticos. O primeiro passo foi compilar dados de mais de 2 milhões de transações registradas globalmente nos últimos 20 anos, envolvendo cerca de 18 milhões de empresas em 168 indústrias. Depois disso, foi criada uma rede conectada de transações, onde cada nó representava uma indústria. Dessa forma, quanto mais indústrias tinham transações entre si, mais próximos eram posicionados os nós no gráfico. Por fim, foram empregados algoritmos de otimização de rede em torno de centros de convergência a fim de limpar os ruídos de interações menos frequentes, conforme mostra a imagem a seguir: 

O intuito dessa análise com base em dados é, justamente, apontar quais são os ecossistemas que se formaram nos últimos 20 anos e, a partir desses resultados, entender o que está por vir.  Ou seja, focar na convergência de indústrias, que é um pilar de ecossistema, usando mais métodos analíticos. 

Os cinco centros-chave de convergência 

Como resultado, a EY identificou cinco centros-chave de convergência: “ Lifelong Wellbeing“, “Futuro da habitação”, “ Silicon Disruption “, “ Energy Transition” e ” Seamless Digital”. Com base nessas megatendências é possível identificar insights de direções interessantes para nortear decisões estratégicas sobre produtos, serviços e canais. 

Dentro desses principais aspectos, o seamless digital assume o protagonismo, justamente por representar esse conceito de que tudo no cotidiano pode ser digital, desde a interação com o banco ao ato de fazer compras no supermercado. Essa digitalização aparece na convergência de forma analítica e em torno disso há outras quatro questões orbitando: bem-estar ao longo da vida, disrupção do Silício, transição energética e futuro da habitação.  Veja quais são as tendências em cada um dos principais ecossistemas: 

Seamless Digital 

Dois terços das transações nos últimos 5 anos contaram com serviços financeiros e players de Tecnologia, Midia e Telecomunicações (TMT), para aproveitar melhorias na autenticação digital, permitindo o surgimento de um ecossistema que chamamos de “digital binário”, com produtos financeiros altamente personalizados com acesso perfeito 24 horas por dia, 7 dias por semana. Embora os pagamentos digitais sejam a área de crescimento óbvia, uma gama mais ampla de serviços financeiros também continua a se desenvolver. 

O outro hub chave é o “guarda-roupa digital”, onde vestuário, tecnologia e mídia se combinam, como evidenciado pelo boom do athleisure e do fitness em casa – acelerado pelo bloqueio pandêmico – com consumidores trocando roupas de negócios por roupas mais casuais, e comprando equipamentos de ginástica para suas casas. Os aplicativos de rastreamento de fitness são apenas uma maneira pela qual as empresas podem coletar enormes quantidades de dados que alimentam novos produtos na moda, vestuário e alimentos. 

Silicon Disruption 

Um boom de negócios entre hardware de tecnologia e players TMT sinaliza o mundo virtual que está por vir, impulsionado por tecnologias como Realidade Virtual, Internet das Coisas e Inteligência Artifical, formando um ecossistema de “realidade ilimitada”, baseado em torno do metaverso. Esses mesmos avanços também estão revolucionando o design de produtos, cadeias de suprimentos, logística e operações, automatizando processos e fornecendo insights em tempo real para melhorar o desempenho e a manutenção e redução de custos. 

Uma análise de M&A mostra uma convergência significativa de hardware tecnológico, semicondutores e manufatura avançada, com empresas de mobilidade e materiais. Grande parte dessa atividade de transação no ecossistema do “bem-estar coletivo” é uma resposta à maior conscientização do ESG, pois as empresas visam construir uma economia mais verde e circular. Tradicionalmente, setores de alto carbono, como commodities, produtos químicos e indústrias de materiais, estão procurando tecnologia para ajudá-los a se tornarem mais sustentáveis. A mobilidade também está em alta na agenda, na forma de transporte autônomo e eletrificado baseado no compartilhamento e não na propriedade. 

Energy Transition 

Em resposta à demanda por fontes de energia sustentáveis e carregamento de veículos elétricos (EV), energia renovável e eletrificação estão formando ecossistemas com as indústrias de mobilidade e energia e utilidades. 

Mais da metade (55%) das transações neste espaço nos últimos 5 anos envolveu empresas de mobilidade e TMT, que são um ecossistema de “logística imediatista” que engloba carona, entrega last mile e logística sob demanda. Tais desenvolvimentos satisfazem a demanda dos consumidores por uma disponibilidade mais rápida de produtos e serviços – muitas vezes para as residências – bem como a redução da pegada de carbono e da propriedade dos veículos. 

O ecossistema do “petróleo verde” foi estimulado por um volume significativo de M&A entre os setores de mobilidade e energia, utilidades e petróleo e gás. Essa atividade está ajudando a melhorar o gerenciamento de energia de redes cada vez mais complexas e frotas logísticas, construir infraestrutura nacionais e nacionais para EV, e acelerar a transição para a produção de energia sustentável, incluindo hidrogênio verde, biometano e energia solar. 

Dentro desse ecossistema de transição energética é possível observar indústrias distintas convergindo de uma maneira difícil de imaginar antes. Por exemplo, a indústria de automotivos interagindo com a de siderurgia para a produção de veículos elétricos. 

Lifelong Wellbeing 

Dentro desse ecossistema, a maioria das transações (76%) nos últimos 5 anos ocorreu entre saúde e serviços e TMT, para formar um ecossistema de “bem-estar personalizado”, com foco na experiência do cliente e atendimento personalizado. 

O aumento do número de negócios entre o setor de Mídia, Telecom e Tecnologia e os setores de educação levou a um ecossistema de “aprendizagem multifuncional”.  Os players deste espaço estão atrapalhando os provedores tradicionais de educação, oferecendo plataformas de aprendizagem digital altamente personalizadas e interativas, em que os usuários (incluindo o mercado corporativo) podem acessar no momento e lugar que lhes convém.  À medida que o VR/AR se torna mais sofisticado, tipos mais amplos de treinamento evoluirão, com experiências simuladas altamente realistas em várias disciplinas. 

Future of Housing 

Esse ecossistema tem sido impulsionado pela atividade de alto negócio entre empresas dos setores imobiliário, hotelaria e construção e TMT, transformando a forma como os edifícios são construídos, comercializados e utilizados.  Por exemplo, durante a pandemia, a procura por casas de maneira virtual tornou-se ainda mais popular, alimentada por visualizações online cada vez mais sofisticadas.  

À medida que o trabalho flexível se torna a norma, o chamado setor de “bleisure” cresceu, com hotéis e outros locais duplicando tanto como destinos de férias quanto espaços de trabalho. Negócios entre empresas imobiliárias e hoteleiras – principalmente hotéis – permitiram que este último focasse em seu core business por meio de um modelo de “asset light”, onde eles não possuem suas propriedades. E, finalmente, o setor da construção civil está formando novos ecossistemas com tecnologia, trazendo novos métodos eficientes, como construção modular e pré-fabricada e impressão 3D. 

Pontos de atenção para executivos de diferentes indústrias 

O ritmo de convergência e o rápido surgimento de novas ofertas podem pegar, até mesmo as empresas mais atentas ao assunto, desprevenidas. Por isso, quem quer se manter um passo à frente precisa estudar como os clientes e os mercados estão mudando e entender em que tipos de ecossistemas entrar, a fim de adquirir as capacidades para desenvolver produtos e serviços distintos e difíceis de replicar. 

O gestor não deve mais pensar que sua competição está vindo só da mesma indústria de atuação e de seus competidores tradicionais. A concorrência pode vir de outra indústria, com um ecossistema inteiro ameaçando seu negócio. Os resultados também apresentam novas oportunidades, uma vez que apontam a possibilidade do surgimento de novas parcerias para diferentes setores. Dessa forma, os executivos devem estar antenados não só com o que acontece em seu setor ou indústria de atuação, mas com as movimentações de mercado como um todo. 

Esse estudo de mercado precisa, ainda, ser feito de forma analítica. Ou seja, não basta considerar o que sai na mídia ou faz sucesso, é preciso estar um passo à frente e analisar de maneira preditiva o que os dados apontam para tendências futuras. 

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Este artigo foi produzido por Eduardo Tesche, LAS Partner na EY- Parthenon

 

 

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