Bitcoin na África: desafiando a conexão de internet
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Bitcoin na África: desafiando a conexão de internet

O Bitcoin não é uma criptomoeda apenas para quem tem dinheiro, mas sim para todos, desempenhando um papel social transformador, chegando até áreas mais remotas.

De acordo com o Banco Mundial, aproximadamente 60% da população africana permanece sem acesso a serviços bancários tradicionais. No entanto, o Bitcoin oferece uma maneira inovadora de contornar essa barreira, permitindo transações seguras e instantâneas sem a necessidade de um banco intermediário.  

Mas como as pessoas podem transacionar Bitcoin em áreas sem acesso à internet? A resposta pode ser encontrada na evolução da tecnologia de transmissão de dados, incluindo redes LoRa, tecnologia Mesh e transmissões via rádio. 

A tecnologia LoRa (Long Range) é um protocolo de comunicação sem fio, de longo alcance e baixo consumo de energia. Ela permite a comunicação de dispositivos em distâncias de até 20 quilômetros, o que a torna ideal para áreas rurais e remotas.  

Além disso, as redes Mesh, ou redes em malha, oferecem uma alternativa robusta à internet convencional. Essas redes permitem que os dispositivos se comuniquem diretamente entre si, sem a necessidade de um ponto central. Se um dispositivo falha, o restante da rede continua a funcionar. Este recurso de auto-recuperação é especialmente útil em áreas onde a infraestrutura de internet é pouco confiável ou inexistente. 

Incentivo à rede LoRa 

A Helium é uma blockchain pública e descentralizada que tem como objetivo recompensar pessoas que queiram participar da rede descentralizada de rádio. Essa rede, conhecida como The People’s Network, é construída pelos próprios usuários que instalam hotspots Helium em suas casas ou escritórios. Estes hotspots não só fornecem cobertura de rede para dispositivos IoT em sua área, mas também verificam e registram transações na blockchain Helium. Os proprietários desses hotspots são recompensados com tokens HNT, a criptomoeda nativa da rede, por fornecerem esse serviço. 

Uma das principais tecnologias empregadas pela Helium é o LoRa (Long Range), um protocolo de comunicação sem fio de baixa potência e longo alcance, perfeito para dispositivos IoT. O LoRa permite que dispositivos como sensores ambientais, rastreadores de localização e outros dispositivos IoT de baixo consumo se comuniquem com hotspots Helium próximos, mesmo a várias milhas de distância. Isso torna a Helium uma solução atraente para aplicações de IoT, pois a sua rede é significativamente mais barata e mais acessível do que as alternativas tradicionais de telecomunicações. 

Transações Bitcoin via rádio e GSM 

As pesquisas de Nick Szabo e Elaine Ou, apresentadas na conferência Scaling Bitcoin 2017, destacaram que as transações de Bitcoin poderiam ser realizadas via ondas de rádio. Além disso, o protocolo Manchakura, desenvolvido na África, permite a transmissão de dados em ondas de rádio de baixa frequência, que podem percorrer grandes distâncias e penetrar ambientes urbanos densos. 

O GSM (Global System for Mobile Communications), uma tecnologia que permite a transmissão de dados e voz entre telefones celulares, também pode ser utilizado para transações Bitcoin. Graças à adoção generalizada do GSM na África, esta é uma alternativa viável para áreas sem conexão de internet. O USSD (Dados de Serviço Suplementário Não Estruturados) é um protocolo de comunicação usado por celulares com GSM que usa até 182 caracteres disponíveis do celular para fazer a transação em tempo real. 

Bitcoin via satélite 

A Blockstream Satellite é uma rede que transmite a blockchain do Bitcoin para todo o mundo via satélite, permitindo que os usuários sincronizem suas carteiras Bitcoin e realizem transações sem a necessidade de uma conexão com a internet. A ideia é aumentar a acessibilidade ao Bitcoin, especialmente em áreas onde a internet é cara, pouco confiável ou inexistente. A rede consiste em vários satélites geoestacionários que cobrem a maior parte do globo, transmitindo os dados da blockchain em tempo real. 

Os usuários podem acessar a Blockstream Satellite usando um kit de satélite que inclui uma antena parabólica, um receptor de sinais de TV digital e um dispositivo para decodificar os sinais recebidos. Uma vez configurado, o sistema pode receber os dados da blockchain do Bitcoin transmitidos pelos satélites e alimentar esses dados em um nó Bitcoin local. Isso permite que os usuários mantenham suas carteiras sincronizadas com a rede Bitcoin sem a necessidade de uma conexão com a internet. Além disso, a Blockstream oferece um serviço que permite aos usuários transmitir seus próprios dados através da rede de satélites, embora isso exija uma conexão com a internet. 

A Rede Lightning Network e PSBT 

A Rede Lightning Network é uma solução de segunda camada construída sobre a blockchain do Bitcoin que permite transações mais rápidas e com menores taxas. Sua principal funcionalidade é a criação de “canais de pagamento” entre os usuários. Esses canais permitem a realização de transações ilimitadas entre as partes, sem a necessidade de registrar cada uma delas na blockchain. As transações são registradas apenas quando o canal é aberto e fechado, o que melhora significativamente a velocidade e eficiência do processo. 

A operação da Lightning Network é baseada em contratos inteligentes e transações multiassinatura. Quando um canal de pagamento é aberto, é criada uma transação multiassinatura que requer a assinatura de ambas as partes para ser gasta. Cada transação realizada dentro do canal atualiza esse contrato, redefinindo a distribuição dos fundos. Quando o canal é fechado, a versão final do contrato é transmitida à blockchain, liquidando o saldo final entre as partes. 

A Transação Parcialmente Assinada Bitcoin (PSBT) é um formato de transação que permite a transmissão de transações não finalizadas entre os participantes, cada um dos quais pode adicionar informações ou assinaturas à transação antes de ser finalmente transmitida à rede. Isso é particularmente útil em cenários onde múltiplas assinaturas são necessárias, como transações multiassinatura ou em carteiras de hardware. O PSBT melhora a interoperabilidade entre diferentes plataformas e software, facilitando a realização de transações mais complexas no Bitcoin. 

         Um bilhete de transação Lightning Network pode ser escrito em um papel

Projeto Machankura 

O serviço Machankura é uma inovação que usa a rede celular (GSM) para integrar milhões de usuários de Bitcoin anteriormente inacessíveis pelo protocolo Bitcoin dependente da Internet. Construído pelo desenvolvedor sul-africano Kgothatso Ngako, o novo serviço baseado em SMS leva o nome Machankura porque é uma gíria sul-africana para dinheiro. Usuários discam um número e são então apresentados a um menu onde podem aprender mais sobre Bitcoin ou registrar uma conta. “Tudo o que você precisa para registrar uma conta é um PIN de 5 dígitos e, a partir daí, você é apresentado a um menu diferente: enviar e receber Bitcoin.” consta no site. 

Na África, apesar de não ter acesso à internet, muitas pessoas têm acesso à operadora celular pelo serviço GSM que não precisa de smartphone para funcionar. O serviço é centralizado, mas funciona como um canal de comunicação com a blockchain mundial, atendendo no momento a milhões de pessoas em diversos países africanos como Ghana, Kenya, Namíbia, Nigeria e Zambia.  

Impacto e perspectivas futuras 

Em áreas rurais da África, onde a infraestrutura de internet é escassa, a adoção do Bitcoin por meio dessas tecnologias tem sido notável. O acesso à criptomoeda permite a essas comunidades participar da economia global, realizar transações e guardar seus ativos de forma segura. 

No entanto, ainda existem desafios a serem enfrentados. A volatilidade do Bitcoin e a falta de conhecimento sobre criptomoedas podem ser obstáculos à adoção em massa. Além disso, enquanto essas tecnologias são promissoras, elas ainda estão em seus estágios iniciais e requerem maior desenvolvimento e adoção para se tornarem viáveis em grande escala. 

Ainda assim, a combinação de Bitcoin com essas inovações tecnológicas aponta para um futuro em que o acesso a serviços financeiros não é mais limitado por restrições de infraestrutura. Esta é uma revolução que tem o potencial de transformar a inclusão financeira na África e em todo o mundo. 

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