Rolante, uma cidade no interior do Rio Grande do Sul, está rapidamente se tornando um pólo de aceitação de Bitcoin no Brasil, e talvez no mundo. O entusiasmo da cidade pela criptomoeda nasceu de uma iniciativa local chamada “Bitcoin É Aqui”, criada pelo casal Ricardo Socoloski e Camilla Stock. O objetivo era não apenas promover o uso do Bitcoin, mas também colocar Rolante no mapa turístico da região. Em apenas quatro meses, a iniciativa provou ser um sucesso, com Rolante emergindo como um modelo para outras cidades interessadas em adotar o Bitcoin como meio de pagamento.
A cidade
Rolante é uma encantadora cidade gaúcha que se destaca pela atmosfera tranquila e acolhedora. Com uma pequena população, ela se encontra estrategicamente situada na região do Vale do Paranhana, a uma distância de aproximadamente 110 quilômetros de Porto Alegre. Além de sua população amigável, Rolante é reconhecida por sua produção agrícola, notadamente na área de frutas cítricas, e por suas belezas naturais deslumbrantes que fazem dela um destino turístico de destaque na região. Seus eventos culturais também contribuem para tornar a cidade um local especial, oferecendo aos visitantes e moradores a oportunidade de desfrutar de manifestações artísticas e culturais únicas. Rolante é um lugar que combina harmoniosamente o charme do campo com a hospitalidade gaúcha, proporcionando uma experiência verdadeiramente memorável a quem a visita.
Ricardo e Camila brincam de ser uma iniciativa cósmica, já que o número mágico do Bitcoin é 21 (21 milhões de moedas) e o número de habitantes da cidade é de 21 mil. O fato é que esse número reduzido ajuda muito manter os cidadãos unidos e engajados na iniciativa.
Rolante: a vanguarda da revolução Bitcoin no Brasil
A cidade já chega a ter mais de 187 estabelecimentos aceitando Bitcoin, desde mercados locais e farmácias, até instituições mais complexas como hospitais e cartórios, o que equivale a 39% da cidade. Se fosse Gramado, seriam 799 pontos aceitando Bitcoin proporcionalmente.
Rolante tem demonstrado uma abertura e entusiasmo notáveis para com o Bitcoin, mas o que impulsiona essa adoção em massa? A resposta pode residir na combinação de uma comunidade engajada, que vê o valor intrínseco da criptomoeda, e a simplicidade das transações proporcionadas pela tecnologia da Lightning Network (LN). Essa rede, uma solução de segunda camada para o Bitcoin, permite transações quase instantâneas com taxas mínimas, tornando-a ideal para pagamentos diários. Comparada ao sistema de pagamento tradicional do Brasil, o Pix, muitos usuários em Rolante acham o Bitcoin via LN mais eficiente e conveniente.
Além da hodling: a cultura de gastar Bitcoin
No contexto das criptomoedas, o termo “hodler” ganhou notoriedade. Ele se refere àqueles que mantêm suas criptomoedas com a expectativa de que seu valor aumentará no futuro. Contudo, em Rolante, uma tendência em crescimento vai além do simples ato de “hodling”. A cidade está promovendo uma cultura de “gastadores”, ou seja, pessoas que enxergam o Bitcoin não apenas como um ativo de investimento, mas como uma moeda ativa, pronta para ser usada em transações do dia a dia.
Essa mentalidade desempenha um papel fundamental na verdadeira adoção em massa do Bitcoin. Ao gastar, os residentes de Rolante estão consolidando a posição da criptomoeda como um meio de troca legítimo, ao mesmo tempo em que incentivam outros a fazerem o mesmo. A ideia é simples: utilizar moedas tradicionais suscetíveis à inflação para adquirir Bitcoin e, posteriormente, usá-lo em transações cotidianas, como comprar café, almoçar, pagar hospedagem e até mesmo adquirir itens simples no supermercado.
Entre os estabelecimentos que aceitam Bitcoin, o Dois Zé Café Bistrô se destaca, oferecendo o popular “Café Bitcoin” e demonstrando o entusiasmo local pela criptomoeda.
Bitcoin Spring Fest: celebrando a revolução
O evento Bitcoin Spring Festival, realizado em Rolante no dia 30 de setembro de 2023, foi um marco significativo para a cidade, trazendo uma atmosfera vibrante e uma realidade diferente para o Bitcoin. O festival, apelidado de “The Meeting” (O Encontro), se autodescreveu como um evento para networking e diversão na “cidade mais Bitcoin do Brasil”. Durante o evento, os portões se abriram às 11h30 da manhã, dando início a uma série de atividades e experiências centradas no Bitcoin. Os participantes puderam desfrutar de um tradicional churrasco gaúcho, assistir a apresentações de bandas no palco principal, participar de painéis com grandes nomes do Bitcoin, jogar Bitpoker e explorar a rota Bitcoin com comerciantes locais.
Foi também uma ótima oportunidade de fazer network já que parte dos maiores influencers de Bitcoin no Brasil esteve presente em palestras. Dentre eles: André Fauth, focado no comportamento dos grandes players; Azul do Fusca, com enfoque em mineração dentro de um Fusca; Bruno Cripto, do canal da Criptomaníacos; Caio Leta, com enfoque em mineração; Diego Kolling, focado na Lightning Network; Dr. Rodrigo Marino da Rocha, com enfoque em regulamentação; Guilherme Renó, da Criptomaníacos; Huberto Leal, do canal HOLD BTC 100; Marcio Costa Filho, organizador do RioCriptoDay; Voepa, conhecido como o vô do Bitcoin e Vinicius Kinczel, da Palavra de Satoshi.
O resultado do evento foi uma grande divulgação e o impulsionamento de 140 para 187 estabelecimentos passando a aceitar o Bitcoin. O interessante é que vários deles não só aceitam, mas estão colocando seus preços em Satoshis, a menor unidade do Bitcoin. Com o apoio da comunidade, cada dia entra mais um.
Estudos de caso
Caso do Cartório
Uma das entradas mais surpreendentes foi a do cartório Tabelionato, Registro Civil e Especial de Rolante, liderado pelo tabelião Eduardo Kindel, ao adotar o Bitcoin (BTC). Tradicionalmente visto como símbolo de burocracia, o cartório de Rolante, em particular, é mencionado por sua disposição em adotar inovações, evidenciada pela decisão de aceitar BTC para pagamentos de todos os serviços. Isso pode levar o cartório à um novo patamar, já que alguns serviços podem ser prestados pela Internet, possibilitando acessar clientela de todo o ecossistema cripto nacional.
Caso Rota das Pipas
A aceitação do Bitcoin transcendeu o comércio básico e agora se entrelaça com a cultura e as atrações turísticas locais. Um exemplo é a Rota das Pipas, uma trilha vinícola popular entre os turistas. Quatro das dez vinícolas na rota agora aceitam Bitcoin, permitindo aos visitantes explorar os sabores robustos dos vinhos locais enquanto experimentam o futuro do comércio digital.
Hospital
Rolante também tem usado o Bitcoin para fins caritativos. Em uma demonstração de solidariedade, o Hospital de Rolante lançou uma campanha de arrecadação de fundos aceitando doações em Bitcoin para a compra de um tomógrafo. A campanha ressalta como a aceitação generalizada do Bitcoin pode facilitar a mobilização de recursos para o bem comum, mesmo em uma cidade pequena.
O futuro é agora
Podemos dizer neste momento que Rolante é a cidade mais bitcoiner do mundo. O outro caso mais próximo seria Lugano, na Suíça, que tem 65 mil habitantes e apenas 150 pontos que aceitam pagamento com criptoativos. Outra referência é El Salvador, um país na ordem de milhões de pessoas e uma curva de adoção muito menor.
Rolante está provando que o futuro do Bitcoin não é apenas uma promessa distante; é o presente. Por meio de sua adoção generalizada e da celebração da cultura Bitcoin, a cidade está pavimentando o caminho para um futuro no qual o Bitcoin não é apenas uma moeda alternativa, mas uma parte integrante da economia.
Outro ponto importante que o experimento está mostrando é que uma iniciativa comunitária pode, sim, catalisar a aceitação do Bitcoin e, no processo, reforçar a economia local. Isso não apenas beneficia os residentes e comerciantes locais, mas também posiciona Rolante como um destino atraente para turistas e entusiastas de criptomoedas.
Christian Aranha
